Precificando o Bitcoin
Existem diversas maneiras de se precificar o Bitcoin, inclusive precificando ele com o valor de R$ 0. Neste texto, o Explica Bitcoin vai mostrar alguns dos modelos de preço que existem no mercado e refletir sobre eles.
Vale lembrar também que tudo que está descrito aqui ignora os movimentos de curto prazo e foca somente nos fundamentos de longo prazo.
O Bitcoin vai a zero ?
Vamos começar o texto lidando com o principal medo da maioria dos novatos no Bitcoin: e se um dia o Bitcoin for a zero? E se a “bolha” realmente explodir?
Existem duas abordagens para responder esta questão: a baseada em dados e a baseada no poder das narrativas.
Análise baseado em fundamentos
Uma crítica bastante comum (e superficial) ao Bitcoin é que “eu acredito nas criptos, mas ainda pode surgir outra cripto, ninguém garante que o Bitcoin não será o MySpaces ou Orkut do futuro”. Essa crítica pode até parecer inteligente em um primeiro momento, mas ela não resiste a uma análise mais aprofundada.
Um dos fatores mais relevantes do Bitcoin é que ele já alcançou o efeito de rede, algo que o MySpace nunca chegou a realmente fazer. Como conferir isso? Simples, o market cap máximo que o MySpace chegou foi de $12 bilhões, um valor relativamente elevado, mas que é 83.3x menor do que o market cap de $1 trilhão que o Bitcoin atingiu entre março e abril deste ano. Um market cap deste tamanho ilustra bem a quantidade de interações que esta rede possui. Nunca existiu uma companhia de tecnologia, com efeitos de rede e market cap superior a $100 bilhões que foi a zero. E o Bitcoin, no auge de março-abril, atingiu 10x este valor de $100 bilhões.
Outro fundamento importante é o hashrate da rede (algo como a capacidade de processamento computacional da rede). Comparando a hashrate do Bitcoin com a de outros criptoativos a diferença é óbvia e ilustra a diferença entre a blockchain do Bitcoin e as outras redes.
O principal fundamento do Bitcoin é a sua comunidade e o efeito de rede associado, então quando alguém te falar que “essa shitcoin aqui é o próximo Bitcoin” se pergunte “qual é a capacidade de processamento dela? Ela já gerou algum tipo de efeito de rede para essa comparação fazer sentido?”. O gráfico abaixo compara a hashrate do Bitcoin com a de outros criptoativos e mostra claramente a diferença entre eles.
Além da hashrate, é interessante também ressaltar a rede de full nodes, que são computadores que rodam o software do Bitcoin constantemente e que se sincronizam entre si em tempo real. Em resumo, o full node registra e valida toda a informação que transita na rede Bitcoin. Nesse sentido, a informação que não está de acordo com as regras é rejeitada.
Esqueça as manchetes sensacionalistas, enquanto o Bitcoin possuir uma rede estável ou em crescimento de full nodes e uma hashrate estável ou em crescimento a tese segue inabalada.
Análise baseada no poder das narrativas
Grande parte dos críticos do Bitcoin se apoiam no conceito de “valor intrínseco” e afirmam que o Bitcoin não possui este valor.
O Explica Bitcoin poderia escrever muito, citar vários autores de várias correntes de pensamento econômico e entrar em um debate acadêmico, explicar porque dinheiro não precisa ter valor intrínseco (já parou para pensar qual é o valor intrínseco de um pedaço de papel colorido?). Mas preferimos uma abordagem mais prática.
Você já parou para pensar que uma obra de arte não passa de um pedaço de pano com tinta? Quem dá o seu valor não é o custo da tinta e nem o custo do pano, pois o valor intrínseco combinado destes materiais é irrisório. O que realmente dá valor a uma obra de arte é a convenção que os apreciadores de artes seguem. É uma pura questão de oferta e demanda. De narrativa que um determinado grupo decide aceitar.
O autor deste texto, por exemplo, não poderia achar mais idiota alguém gastar dinheiro comprando panos pintados, mas esta é uma opinião subjetiva. Basicamente, NÃO importa a minha opinião se existirem pessoas o suficiente que enxergam valor nestes panos pintados. O mesmo vale para cartas de RPG. Para a maioria das pessoas do mundo elas não possuem valor, mas a maioria das pessoas está errada e elas possuem um grande valor, pois é isso que a oferta e demanda nos mostram.
Existem cartas de Magic que custam até R$830 mil e cartas de Pokémon chegam a valer R$1.9 milhões. O mercado é sempre soberano e uma opinião subjetiva sobre se um ativo tem valor ou não é só isso, uma opinião. Se não existissem valor não existiria demanda e a oferta tenderia a zero com o tempo.
“Mas a arte original é única e escassa e existem milhares de outras shitcoins no mercado, então o Bitcoin não é escasso”. Este argumento, que muitos usam, simplesmente considera que existem uma infinidades de gravura da Monalisa e estas não tiram em nada a escassez, e portanto o valor, da Monalisa original.
Como enxergamos o mundo?
Você já deve ter escutado a respeito do livro “Sapiens”, do historiador Yuval Harari. Um dos conceitos apresentados no livro é o poder das narrativas para a mobilização de grupos humanos. O ser humano compreende o mundo, de acordo com Harari, em três esferas distintas: a realidade objetiva, a realidade intrasubjetiva e a realidade intersubjetiva.
A realidade objetiva é o mundo concreto descrito pelas leis da física e da química. Por exemplo: se eu soltar um copo no ar ele vai cair por conta da gravidade. Isto é uma realidade objetiva. Não importa as origens culturais, o gênero e nem a idade da pessoa, o copo cairá pois a lei da gravidade funciona de maneira igual para todos.
A realidade intrasubjetiva é o mundo do meu eu interno. Onde minha interpretação subjetiva do mundo é o fator mais importante. Minhas sensações, emoções e sentimentos. Esta realidade é impossível de ser comunicada, pois mesmo as palavras já distorcem o seu real significado. Entre o pensamento e a formulação em palavras já existe um abismo, entre as palavras ditas por uma pessoa e a compreensão destas mesmas palavras por outra pessoa, outro.
A realidade intersubjetiva são as histórias que compartilhamos com os outros. Estas histórias ganham força de verdade conforme mais e mais pessoas passam a acreditar nelas. Por exemplo: não existem direitos humanos universais. Eles não são uma realidade objetiva. Um leão não respeitará os seus direitos humanos caso você passe desavisadamente em sua frente na savana africana.
A vibração de uma torcida ao ver o seu time fazer um gol é outro ótimo exemplo de realidade intersubjetiva. Objetivamente falando, os homens chutarem a bola dentro do gol não deveria afetar em nada a minha realidade. Mas, como eu fui ensinado desde que nasci a gostar de futebol, o gol do meu time me emociona. E pessoas que usam cores diferentes (as cores de outros times) me incomodam profundamente, apesar de serem só cores.
Da mesma forma, existirem dias certos para trabalhar e dias certos para descansar é um acordo coletivo, uma realidade intersubjetiva. Não existe diferença real entre um domingo e uma segunda-feira além da convenção social.
Ou seja, algo se torna real simplesmente por ser uma narrativa compartilhada entre muitos indivíduos. As realidades intersubjetivas são as convenções sociais que nós adotamos sem nem perceber que elas são opcionais. Elas são o caldo cultural de um determinado povo, seus costumes e suas tradições.
Religiões são ótimos exemplos de realidades intersubjetivas. Elas não existem de fato na natureza, mas elas existem na mente dos humanos e isso gera derivações concretas no mundo real.
Religiões não são zeradas
Uma comparação que muitos críticos costumam fazer aos bitcoinheiros é que nós nos comportamos como uma religião. O Explica Bitcoin discorda em partes desta visão, pois geralmente seguir uma religião implica em respeitar diretrizes dogmáticas sem independência de pensamento. E nada poderia ser mais contrário ao ethos dos bitcoinheiros do que isso. Ethos significa o “conjunto dos costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento (instituições, afazeres etc.) e da cultura (valores, ideias ou crenças), característicos de uma determinada coletividade, época ou região” e com certeza pode-se dizer sim que nós bitcoinheiros possuímos costumes e hábitos fundamentais que nos caracterizam. É justamente por conta do ethos dos bitcoinheiros ser tão coeso que existe esta impressão de comportamento religioso. Então, para fins argumentativos, vamos considerar que o Bitcoin é sim uma religião e os bitcoinheiros como seus discípulos.
Então a questão que fica é: será que é possível zerar uma religião?
Se vocês se lembrarem das aulas de religião e de história do Império Romano, a resposta é auto evidente. O Império Romano foi um dos impérios mais poderosos que o mundo já conheceu. Foi no coração deste império que Jesus Cristo nasceu, viveu e foi crucificado. Desde esse momento em diante o Império Romano tentou acabar com o Cristianismo. Mesmo após anos da crucificação de Jesus, o número de cristãos só crescia no império. Mesmo com milhares de cristãos sendo literalmente jogados aos leões no Coliseu para entretenimento da população pagã, o número de cristãos só cresceu. Até que chegou o momento em que o Imperador Flávio Aurélio Constantino (272 d.C. — 337 d.C.) se converteu ao Cristianismo.
(me desculpem a hipersimplificação, mas eu não sou historiador e, muito provavelmente, quem está lendo também não é, de modo que não faz sentido se preocupar com os detalhes. Estamos olhando para o padrão da copa das árvores, nada para cada folha individualmente)
A história do Cristianismo poderia ser utilizada como um exemplo perfeito para a hipótese de que “o mais teimoso ganha” que o autor Nassim Taleb apresenta no livro “Arriscando a própria pele”. Basicamente uma minoria teimosa o suficiente, que possua essa convicção por tempo suficiente, acaba influenciando todos os outros a adotarem o seu pensamento. A figura esquemática abaixo ilustra o raciocínio do Taleb em que uma pequena minoria teimosa e convicta consegue influenciar o seu núcleo próximo. Que influenciará mais pessoas. Ou, nas palavras do Taleb: “Renormalização dos grupos: os quatro quadrados contém quatro quadrados menores dentro deles e apenas um dos quadrados está de uma cor diferente. Aplicando a regra de que a minoria que impõe sua visão na sua pequena esfera de influência em cada um dos três passos nós entendemos a regra da minoria teimosa
Todos estes conceitos abstratos e lições de história nos ajudam a ver que não, o Bitcoin não vai a zero. Para isso acontecer seria necessário perseguir e eliminar todos seguidores dessa “religião”.
Como o Bitcoin não vai a zero, a próxima pergunta é “como então precificar ele?”. É sobre isso que as próximas páginas iram tratar.
Gráfico de Arco Íris
O Gráfico de Arco Íris é uma proposta mais leve de se olhar para os movimentos de longo prazo do Bitcoin, ignorando os ruídos gerados pela volatilidade do dia a dia. As faixas das cores seguem uma regressão logarítmica (introduzida inicialmente no Bitcointalk pelo avatar trolololo em 2014). Esta previsão de preço é completamente arbitrária e sem nenhuma base além desta progressão logarítmica, ou em outras palavras: esse modelo é válido até o dia que deixar de ser. Mas é interessante notar que esta regressão foi feita em 2014 e preveu com exatidão o comportamento do preço no ciclo de alta de 2017–2018 e o ciclo de baixa de 2018–2019.
Valuation comparado
Uma outra alternativa de precificação para o Bitcoin é comparar o market cap (valor total de mercado) atual dele com o market cap de outras reservas de valor, mas para fazer esta avaliação é necessário primeiro entender melhor o conceito de reserva de valor. A principal característica de uma reserva de valor é a manutenção do poder de compra com o decorrer do tempo. Existem diversas opções de reservas de valor e historicamente o ouro foi considerado como a melhor alternativa.
As reservas de valor mais utilizadas no mundo atualmente são:
Ouro: reserva de valor mais tradicional, também possui utilização como joalheria e aplicações industriais. O ouro tem alguns lados negativos como reserva de valor que são pouco comentados. 1) a custódia do ouro é arriscada e por isso geralmente ela é feita por bancos. O que significa dizer que ele é facilmente confiável. 2) a validação é um processo custoso e depende de alguns poucos especialistas. 3) O ouro é uma commodity, o que significa que quando o seu preço aumenta existe o incentivo para que os produtores utilizem a sua capacidade produtiva ociosa para aumentar a produção. Ou seja, o próprio movimento de alta no preço dele gera, como consequência, um processo que no futuro terá como resultado menos valor real para o próprio ativo, pois ele se torna menos escasso.
Imóveis: quando o imóvel é visto como investimento e está sendo comprado para ser alugado eu revendido posteriormente. Ou seja, no cenário que o imóvel não é visto como uma opção de moradia ou lazer. Todo brasileiro é traumatizado ou foi educado e aconselhado financeiramente por alguém que é traumatizado com a hiperinflação e o confisco do Collor. Todos já escutaram diversas vezes que um imóvel é um ótimo investimento porque ninguém pode confiscar e ele preserva valor na inflação. Mas os imóveis possuem impostos (IPTU), contas e manutenção de toda parte hidráulica, elétrica e etc, uma verdadeira dor de cabeça. Ou seja, é uma reserva de valor que gera custos fixos e uma dor de cabeça constante com a manutenção. Todos estes imóveis vistos como investimento podem (e tendem a) substituídos pelo Bitcoin como reserva de valor, uma vez que o Bitcoin preserva melhor o seu capital (por não possuir custos e gastos fixos associados).
Ações: idealmente o mercado acionário reflete o crescimento das melhores empresas de determinado país. Com a mudança de paradigma que ocorreu no mundo nos últimos anos (juros reais negativos) cada vez mais as ações são vistas como reserva de valor em detrimento dos Bonds. É só olhar o desempenho das ações de Facebook, Amazon, Amazon, Netflix e Google em comparação ao resto do mercado acionário (a famosa recuperação em K)
Renda Fixa: até pouquíssimo tempo atrás a renda fixa era vista como uma reserva segura e confiável. Porém, com a diminuição mundial das taxas de juros que elas deixaram de preservar valor no tempo, visto que a rentabilidade real passou a perder da inflação (isto ainda considerando a inflação oficial, que é um dado totalmente poluído). Basicamente, entramos em um mundo com juros reais negativos. Se considerarmos a inflação de ativos ao invés da inflação oficial, o poder de preservação de valor da renda fixa no tempo piorou significativamente mais (mas a inflação de ativos será tema de um outro texto mais adiante)
Fundos: Existem tanto fundos que são focados exclusivamente em ações (FIAs), fundos multimercados (FIM) que focam nas melhores oportunidades do momento, fundos imobiliários (FII) que focam em administração de imóveis e geração de renda passiva, fundos passivos (ETFs), fundos de recebíveis ou direitos creditórios para investidores profissionais, aporte inicial de 1mi (FIDCs), e também existem os fundos que investem em outros fundos (FICs). Todos estes fundos são, no lato sensus, podem ser vistos como reservas de valor também. Isso significa dizer que quem investe nesses fundos não investe necessariamente por acreditar nas teses, e sim como uma maneira de preservar o seu valor de compra no futuro. Isso significa dizer que, caso surja uma maneira mais eficiente de preservar valor de compra e transmitir este valor de compra para o futuro, estes fundos (e todas as outras classes de reserva de valor menos eficientes) serão parcialmente desmonetizados.
Se o ouro é historicamente a melhor reserva de valor, o Bitcoin é o ouro digital, ou ouro 2.0 caso você prefira (mesmo bancos como o JP Morgan já vem reconhecendo o Bitcoin como o ouro digital).
Ele apresenta quase todas as características positivas do ouro (não é possível fazer joias com o Bitcoin), mas o Bitcoin otimiza diversas características do ouro, como por exemplo: é inconfiscável, incensurável e descentralizado. O que significa que o Bitcoin não pode ser atacado com sucesso por governos, diferente do ouro que se encontra todo apreendido pelos governos.
Comparando os market caps
Pensando que o Bitcoin é, no mínimo, igual ao ouro na qualidade de reserva de valor, o market cap destes dois ativos teria que ser igual.
Atualmente o market cap do ouro está em $11.8 trilhões e o market cap do Bitcoin está em $815 bilhões. Isso significa que o market cap do Bitcoin teria que multiplicar por ~14.5x para se equiparar ao market cap do ouro. Se a cotação do Bitcoin de hoje (18/05/2021) é de ~$43.300, então a cotação do Bitcoin quando os market caps estiverem igualados será de ~$620.000.
O Bitcoin é uma reserva de valor muito superior ao ouro, então este seria só o valor mínimo para o Bitcoin. Considerando ainda que o Bitcoin tende também a desmonetizar as demais reservas de valor (casas, investimentos nos mercados acionários e até mesmo a renda fixa) essa previsão de cotação em $620.000 ainda é uma previsão extremamente conservadora.
Bitcoin como um paraíso fiscal
Primeiro vamos explicar o que é um paraíso fiscal. Os países que são conhecidos como paraísos fiscais são países que oferecem tributação baixa para estrangeiros, atraindo capital de todas as partes do mundo. Regras rígidas de sigilo bancário são uma característica comum nestes países, fazendo com que os paraísos fiscais sejam constantemente relacionados a lavagem de dinheiro e a crimes financeiros. De forma resumida, paraísos fiscais são regiões com regras fiscais flexíveis, sobretudo quando comparadas às normas do direito internacional para combater crimes, como sonegação de impostos e lavagem de dinheiro. A Receita Federal considera como paraísos fiscais Estados ou regiões com tributação de renda menor que 20% ou que não tenham regras de transparência a respeito de titularidade ou composição societária de empresas.
Todas estas características que descrevem os paraísos fiscais podem ser utilizadas também para descrever o Bitcoin. O capital alocado em bitcoins jamais será taxado dentro do sistema Bitcoin, o que significa dizer que as taxas associadas a preservar o seu capital na reserva de valor chamada Bitcoin são nulas, enquanto que o dinheiro aplicado em outros paraísos fiscais são taxados anualmente pelos bancos desses países.
O Bitcoin também não se importa com titularidade e todo usuário da rede é conhecido pela sopa de letras e números da sua wallet, e não pelo seu nome e CPF. O Bitcoin é a rede mais inclusiva do mundo justamente pela sua incapacidade de discriminar qualquer indivíduo que esteja utilizando ela.
Como a própria função dos paraísos fiscais é fugir de fiscalização e taxação, estimar o valor total mantido neles é uma tarefa difícil. Existem estimativas que variam entre $8.7 trilhões (Gabriel Zucman, Universidade de Berkeley) a $36 trilhões (James. S. Henry, economista).
Se o Bitcoin é um paraíso fiscal ideal, vamos modelar cenários em que 10%, 25% e 50% do capital alocado nos paraísos fiscais migrará para o Bitcoin. Este valor pode ser visto como um valor que deveria ser adicionado às outras estimativas baseadas em valuation comparado.
Com o Bitcoin atingindo 25% do mercado dos paraísos fiscais, o market cap absorvido pelo bitcoin seria algo entre $ 870 bilhões e $3.6 trilhões (utilizando as estimativas apresentadas acima), significando acréscimos ao preço justo do Bitcoin de aproximadamente $46.800 e $193.000 (utilizando valores de $42.000 e market cap aproximado de $780 bilhões do dia 20/05/2021 para os cálculos).
Com o Bitcoin atingindo 25% do mercado dos paraísos fiscais, o market cap adicionado ao Bitcoin teria que ser entre $ 2.175 trilhões e $9 trilhões, significando acréscimos de aproximadamente $117.000 e $484.000 no preço.
Com o Bitcoin atingindo 50% do mercado dos paraísos fiscais, o market cap adicional seria algo entre $ 4.35 trilhões e $18 trilhões, significando acréscimos de $234.000 e $969.000.
Vale frisar que o Bitcoin não desmonetizará apenas o ouro, ou apenas o mercado imobiliário ou apenas os paraísos fiscais. Ele desmonetizará TODOS estes mercados ao mesmo tempo, conforme a sua hipótese de valor, isto é, ser uma reserva de valor confiável, inconfiscável e sem erosão de capital via impostos ou taxas, ficar cada vez mais clara. Então o valor total que o Bitcoin desmonetizar de cada uma dessas classes de ativos somados determinará o preço final do Bitcoin. Qualquer modelo de valuation comparado que não leva isto em conta estará com premissas falhas.
De acordo com o Institute for International Finance, o tamanho global dos ativos financeiros era de $900 trilhões. Se o Bitcoin capturar 5% deste mercado, o valor do Bitcoin equivale a esses 5% ($45 trilhões) dividido pelo número de moedas (21 milhões). Ou seja, um valor estimado de $2.14milhões de dólares por bitcoin. Se o Bitcoin capturar 10% do mercado de ativos globais, o valor estimado é superior a $4 milhões por bitcoin.
O processo de escolha de reserva de valor é um processo de seleção natural, e o Superpredador (o predador que reina sobre uma cadeia alimentar inteira) deste mercado é o Bitcoin.
Parece bom demais para ser verdade né? Vamos aos próximos modelos.
Custo Energético como valor justo
A mineração do Bitcoin é um processo que demanda alta quantidade de energia. Isso, inclusive, torna este processo alvo de muitas críticas infundadas (veja porque elas são infundadas aqui e aqui). Ignorando as críticas e pensando na relação entre o custo energético e o valor do Bitcoin, uma pergunta surge: “será que o valor justo de um bitcoin pode ser calculado com base na energia utilizada na sua mineração?
A hipótese apresentada por Charles Edwards (neste artigo) é que o valor do Bitcoin pode ser expresso em função das seguintes variáveis: energia utilizada para a sua mineração, taxa de crescimento do estoque de bitcoins e valor em dólares da energia, expresso por uma constante (f). Estas variáveis levam a fórmula do Valor Energético do Bitcoin (V) abaixo:
Essa fórmula também pode ser alterada para representar o Valor Energético do Bitcoin (V) em função da Energia Utilizada no processo.
Ou seja: V = Joules ln x ( 2 x 10 e -15)
Este modelo é profundamente trabalhado no artigo original, se alguém quiser se aprofundar no tema a leitura é recomendada. O resultado obtido pelo modelo pode ser observado na imagem abaixo e demonstra como a correlação entre o Valor Energético Bitcoin e o seu preço é alta.
Uma conclusão que pode ser extraída deste modelo é que a saúde do ecossistema de mineração está diretamente ligada ao valor do Bitcoin. Isso significa dizer que a utilização de mais energia pelos mineradores aumenta o valor intrínseco do Bitcoin, e que o contrário é verdadeiro também e uma diminuição no uso de eletricidade pela rede gerará uma diminuição do valor do Bitcoin.
Como este modelo utiliza dados reais do consumo energético ele não pode ser usado de maneira preditiva para o preço futuro do Bitcoin, uma vez que não se sabe o quanto de energia a rede continuará usando.
S2F e S2FX
Os modelos de stock-to-flow (S2F) e stock-to-flow utilizando mais classes de ativos para balizar o modelo (S2FX) são os dois modelos bastante comentados pois se baseiam puramente na escassez, oferta e demanda para estimar o preço justo do Bitcoin.
Originalmente os modelos de stock-to-flow foram desenvolvidos para commodities, como ouro, prata e pedras preciosas em geral. A ideia básica por trás destes modelos é analisar a escassez de determinado ativo e com isso determinar um “valor justo” para o mesmo. Este “valor justo” aumenta conforme a dificuldade de obtenção de determinado ativo aumenta. Ou seja, conforme a dificuldade de se obter mais de determinada commodity aumenta e o S2F está modelando o preço a partir da variação da oferta de determinado ativo.
De acordo com o PlanB, a escassez consegue ser quantificada pela relação stock/flow, onde “stock” é o tamanho do estoque/reservas atual e o “flow” é a produção anual de determinada commodity. A relação inversão (flow/stock) também é conhecida como taxa de crescimento da oferta. A hipótese principal deste modelo é que a escassez (medida em termos de stock/flow) gera valor por si só.
O PlanB propôs dois modelos diferentes de stock-to-flow para o Bitcoin:
1) o modelo de S2F, que leva em conta a equação de oferta e demanda e o tempo;
2) e segundo modelo associa o Bitcoin com outras classes de ativos (prata e ouro) e deixa de considerar o tempo como um fator importante. Este modelo é conhecido como S2F com ativos cruzados (S2F cross assets), ou simplesmente S2FX
OK, mas quais preços que estes modelos preveem?
O modelo S2F mostra que o preço justo do Bitcoin ao final deste ciclo de alta (agosto de 2022 a abril de 2024 aproximadamente) estará entre $100.000 e $120.000. No pico do próximo ciclo de alta (2025–2029), o preço deve chegar até $1.200.000.
Já o modelo S2FX mostra que o preço justo do Bitcoin ao final deste ciclo de alta (mesmo período de agosto de 2022 a abril de 2024) estará entre $240.000 e $310.000. No pico do próximo ciclo de alta (2025–2029), o preço chegaria até $5.000.000.
Parece bom demais para ser verdade né?
Originalmente, o modelo S2F foi publicado em março de 2019, com o Bitcoin valendo ~$4.000 e com o market cap de $70 bilhões. No artigo original, o PlanB previu que o preço do Bitcoin após o halving de 2020 chegaria a $55.000, com um market cap de $1 trilhão. O que de fato já ocorreu entre março-abril de 2021. Ou seja, em 2019, no auge do ciclo de baixa, o modelo foi capaz de prever o comportamento do preço futuro com grande precisão. E previu este preço futuro prevendo uma multiplicação de 13.75x.
Se você quiser se aprofundar mais nesses dois modelos, os artigos originais do PlanB sobre o S2F e S2FX são boas fontes de pesquisa. Este texto do aqui também ensina como ler os gráficos de maneira bem simples e mastigada. Nestes links você pode acompanhar também a evolução dos modelos S2F e S2FX em tempo real, assim como suas previsões de preço para o futuro. Hoje em dia estes modelos talvez sejam os mais reconhecidos, e são citados com confiança por investidores institucionais e por revistas de investimento como a Forbes.
Mas estes modelos de stock-to-flow não levam em conta as emoções humanas, então geralmente o preço ultrapassa o múltiplo fo S2F no auge do ciclo de alta e fica abaixo do múltiplo no ciclo de baixa.
Modelo Composto da Fidelity (S2F + Curva S de Adoção)
A Fidelity Investments, uma das maiores gestoras de ativos do mundo, publicou um relatório utilizando um modelo misto para precificar o Bitcoin. Este modelo misto leva em conta:
a) o modelo de S2F do Planb para representar a oferta
b) a demanda é modelada com base no modelo de curva em S de adoção de tecnologia (o Explica Bitcoin comentou mais profundamente sobre o tema da curva S de adoção do bitcoin neste outro texto). A Fidelity usou como premissa que a curva S de adoção de novos usuários do Bitcoin é semelhante a curva de adoção dos telefones celulares.
O gráfico obtido pela sobreposição destas duas curvas pode ser observado abaixo. Este gráfico mostra que os modelos de oferta e demanda estão bem alinhados e ambos prevêem um aumento contínuo dos preços.
Vale notar que, no futuro, os modelos começam a divergir. Isto ocorre pois a curva S de adoção de novas tecnologias costuma atingir um platô, enquanto que no modelo S2F a tendência se mantém exponencial.
A conclusão final do relatório da Fidelity é que o modelo S2F provavelmente é otimista e que, possivelmente, a curva representada pela demanda é mais plausível.
O Explica Bitcoin tem uma leitura ligeiramente diferente do modelo da Fidelity e acredita que o preço do Bitcoin vem seguindo as duas linhas de tendência. A curva de adoção em S tem marcado o preço nos ciclos de baixa e o S2F está marcando os ciclos de alta. Para o autor deste texto, a tendência que o gráfico da Fidelity mostra é que este padrão se mantenha pelos próximos 2 ciclos pelo menos. Depois, no futuro mais distante (talvez a partir de 2030), o platô representado pela curva S de adoção faz sentido como cenário base de um mundo já hiperbitcoinizado (quando as coisas foram cotadas em satoshis e a reserva de valor mundial for o Bitcoin e não o dólar). De acordo com diversos gestores renomados, como Ray Dalio, Bill Miller, Paul Tudor Jones e Stanley Druckenmiller, o dólar perderá o status de moeda forte mundial nos próximos 15 anos.
Este pensamento é interessante pois o modelo S2F não leva em conta a variação das emoções do ser humano. E estas variações emocionais sempre são fatores determinantes para o comportamento do preço dos ativos no mercado.
Por isso que o preço do Bitcoin ultrapassa o modelo S2F nos ciclos de alta e cai abaixo dele nos ciclos de baixa.
Hipótese do Superciclo
A hipótese do Superciclo é a suposição que “desta vez é de fato diferente”, que é uma das frases mais amaldiçoadas no mercado financeiro. Por que? Porque no auge de toda bolha o investidor se sente um gênio e se sente invencível. No momento de euforia os fundamentos não importam tanto na psique dos investidores.
Existem duas variações possíveis para essa hipótese: ou o preço não sofrerá uma correção significativa (superior a 50%) no final do ciclo de alta de 2021 ou os modelos de S2F serão rompidos para cima e o preço do Bitcoin já alcançará as previsões para os próximos ciclos em um curto espaço de tempo. A hipótese do Superciclo é vista como “hopium” (mistura de hope, que significa esperança em inglês, e ópio), uma expressão que os bitcoinheiros usam para descrever os vendedores de esperança.
O que pode validar esta hipótese? Os modelos de S2F foram construídos levando em conta somente variáveis internas ao Bitcoin e sua taxa de mineração. Isso significa que ele não leva em conta as mudanças que estão ocorrendo no contexto macro, em especial desde março de 2020. O Explica Bitcoin ainda vai fazer um texto específico se debruçando somente no contexto macroeconômico e como ele empurra diversos investidores conservadores para o Bitcoin. Mas basicamente podemos dizer que a demanda por bitcoins tende a crescer significativamente conforme mais investidores entendam o que está acontecendo e o que representa a impressão desenfreada de dinheiro dos bancos centrais mundiais (processo que os bitcoinheiros carinhosamente chamam de “money printer go BRRRR”, algo como “a impressora tá ON” numa tradução não-literal mas que tenta preservar o espírito memético. Se você não entende porque a impressão infinita de dinheiro é algo ruim não se preocupe, um dos próximos textos que o ExplicaBitcoin irá produzir é sobre o Efeito Cantillon e vai explicar justamente isso).
Esta hipótese é defendida por Michael Saylor, CEO da Microstrategy e um dos maiores proponentes do Bitcoin. Para ele, em algum momento o mundo vai perceber o que está acontecendo no contexto macro e, quando isso acontecer, uma enxurrada de dinheiro irá migrar para o Bitcoin.
Number Go Up
Claro que é sempre gosto ver projeções futuras de preços. Ter pontos fixos para poder traçar projeções conforta psicologicamente e passa a sensação de que “existe uma maneira de precificar este ativo e o preço é X”. Mas modelos sempre são isso, modelos. Nenhum modelo nunca será capaz de realmente prever o futuro pois ele sempre será, por definição, reducionista em algum ou diversos aspectos (e o autor deste texto afirma isso com grande convicção, no mundo fiat ele fez mestrado e doutorado no tema “modelos” inclusive).
O autor do texto sempre preferiu pensar nas coisas a partir das suas premissas do que na derivação destas premissas, ou seja, entendendo os fundamentos de determinada tese de investimento ao invés de ficar tentando prever como o preço irá variar no próximo ano. Nesse sentido, os bitcoinheiros têm um meme que é a melhor precificação na opinião do autor: o Bitcoin possui NGU Tech, ou Tecnologia NGU. O que NGU quer dizer? Simples, Number Go UP (“o número sobe” em inglês).
Inicialmente, a tecnologia NGU parece uma brincadeira superficial, mas conforme você passa a entender mais sobre a oferta e a demanda do Bitcoin, você entende que só existe uma opção para o preço: pra cima.
Eu digo isso baseado no fato de nunca ter existido uma reserva de valor digital, com efeito de rede, market cap multi bilionário, demanda inelástica e um “culto religioso” divulgando e protegendo ela.
Demanda inelástica significa que, mesmo com o preço subindo exponencialmente, é impossível aumentar a produção de Bitcoin. Não serão minerados mais de 21 milhões de bitcoins e essa mineração seguirá o protocolo, diminuindo a remuneração por bloco minerado a cada halving.
Além disso, o Bitcoin conta com um “exército de formigas” de bitcoinheiros (o tal “culto religioso”) que já aderiram ao padrão Bitcoin e que todo mês convertem o seus reais em bitcoins independente do preço. A estratégia de comprar um pouco todo mês (“preço não importa”, para os investidores de bolsa) é bastante utilizada entre os bitcoinheiros que fazem HODL (quem compra Bitcoin para o longo prazo e vê a volatilidade como oportunidade de comprar mais satoshis em promoção). O estoque de bitcoins disponíveis está diminuindo continuamente, fazendo com que o preço suba por uma simples questão de oferta e demanda.
Entendendo os fundamentos centrais da tese do Bitcoin, como a anti-fragilidade da rede baseada em uma descentralização verdadeira e a política de expansão monetária previsível e imutável, a volatilidadedo preço deixa de ser algo importante no curto prazo. No longo prazo só existe uma alternativa: Number Go Up.
Haters Go Down
Uma reflexão interessante também é que a grande maioria dos detratores do Bitcoin são pessoas em geral mais velhas e menos abertas à tecnologia, enquanto que a maioria dos bitcoinheiros são da geração millennial. Além disso, a maioria dos jovens da geração Z convive com o Bitcoin desde que eles têm memória. Para eles o Bitcoin é só mais um ativo, tão válido como um fundo imobiliário ou uma ação da bolsa, e não um patinho feio disruptor, complexo e exótico.
O mesmo processo ocorre na adoção de qualquer nova tecnologia disruptiva e, com certeza, também existiam motoristas de carruagens e charretes, idosos ou não, que reclamavam da invenção do carro e nunca se adequaram ao novo mundo. Quem escutou o conselho deles e investiu em carruagens não fez um bom negócio, como as imagens abaixo ilustram.
Em seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas (1962), Thomas Kuhn descreve o processo de mudança de paradigmas. Basicamente, existem mudanças de compreensão (paradigmas científicos, na linguagem do Thomas Kuhn) em determinados temas que ocorrem de tempos em tempos. Estas mudanças de compreensão (ou novos paradigmas) sempre enfrentam resistência de certos mais conservadores. Poucas coisas conseguem convencer estes setores conservadores, mas como estes setores são formados pelos pesquisadores mais velhos, a ciência tende a evoluir conforme eles vão se aposentando e novos pesquisadores, que já entendem o novo paradigma, assumem suas funções.
Processo semelhante ocorre no Cerrado, onde queimadas naturais estimulam o rebrotamento de diversas espécies vegetais. No Cerrado, o fogo gera regeneração no ecossistema. Na evolução do conhecimento, a aposentadoria e morte dos conservadores e arcaicos gera avanços, pois críticas imbecis deixam de ser relevantes.
Um bom exemplo sobre o tema é o economista e ganhador do Nobel de economia Paul Krugman, um grande crítico do Bitcoin. No primeiro momento, isto causa certa apreensão, mas vamos primeiro avaliar a opinião dele sobre outras mudanças de paradigma, como a internet : “Até 2005 mais ou menos, vai ficar claro que o impacto da Internet na economia não será maior que o impacto das máquinas de FAX”. Mostre essa frase para um millennial e se prepare para ver ele dando risada. Será que alguém que menosprezou a influência da internet é a pessoa mais aconselhável para emitir opiniões sobre inovações tecnológicas? Você pediria dicas de computar para o seu avô? É a mesma coisa.
O mesmo ocorrerá com o Bitcoin: conforme os mais velhos forem se aposentando e morrendo, são os mais jovens que irão alocar o capital que foi passado adiante. Então o importante não é somente a opinião dos mais velhos que possuem o capital hoje em dia e sim, o que será feito com este capital daqui a 5, 10 ou 20 anos?
Se pergunte: você conhece algum millennial que se importa com ouro?
Que quer comprar um imóvel?
Que confia no governo e nas instituições?
Hoje em dia, e cada vez mais no futuro, os jovens não fazem distinção entre o virtual e o real. Para nós, o virtual é real. E a palavra “analógico” possui uma conotação bastante negativa, quase uma ofensa.
Será mesmo que os jovens irão preferir reservas de valor analógicas como o ouro ou um imóvel?
O Explica Bitcoin acredita que não. Então pra nós a precificação do Bitcoin é bem simples: Number Go Up
Referências:
Como os mais teimosos vencem: a ditadora da pequena minoria
Gráfico Arco-iris
https://www.blockchaincenter.net/bitcoin-rainbow-chart/
Market Caps do ouro e do Bitcoin
Paraísos fiscais:
https://www.capitalresearch.com.br/blog/investimentos/paraisos-fiscais/
Valor do mercado global de ativos
Custo energético como valor justo
https://medium.com/capriole/bitcoin-value-energy-equivalence-6d00d1baa34a
Stock-to-flow e Stock-to-flow cross asset
Modelo Misto da Fidelity
https://bitcoinblackpill.com/blog/f/coment%C3%A1rios-sobre-a-an%C3%A1lise-de-diretor-da-fidelity-investment
Hipótese do Superciclo
https://danheld.substack.com/p/a-bitcoin-supercycle
https://www.youtube.com/watch?v=-67VkOsvqro&ab_channel=WhatBitcoinDid
https://www.youtube.com/watch?v=7eL04MDfqyI&ab_channel=WhatBitcoinDid