3a — A Bateria Bitcoin e suas Consequências

Explica Bitcoin
40 min readNov 11, 2021

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“Bitcoin é o sistema mais eficiente da história da humanidade para canalizar energia através do tempo e do espaço.”

Michael Saylor

“A energia solar irá se tornar a maior fonte de energia elétrica”

Elon Musk

A primeira seção deste texto focou em mostrar como é a relação da humanidade com as diferentes formas de energia ao longo dos milênios. O conceito de energia capturada foi definido no texto como “toda e qualquer forma de energia canalizada pelo ser humano para o seu próprio uso” e eu procurei mostrar como a variação de energia capturada que a humanidade tem a seu dispor afeta diretamente os acontecimentos históricos, o progresso e a qualidade de vida da população humana. Nós também definimos o conceito de energia desperdiçada, que nesse texto não é a energia que um eletrodoméstico está gastando ineficientemente, mas sim é energia que nós temos em abundância na Terra, mas que não é capturada, como a gigantesca maioria da luz solar que incide no planeta, ou os ventos e as marés.

Na segunda seção, o objetivo era mostrar que o ser humano utiliza diversas formas de armazenar e vender e utilizar energia, desde as baterias tradicionais, até “baterias” numa visão mais ampla, como o alumínio, a gasolina e até mesmo o dinheiro. Um foco maior foi dado a Bateria Dinheiro, pois ela é a tecnologia base de qualquer sociedade, visto que o dinheiro permite aos seres humanos colaborarem entre si numa escala superior a da família ou tribo. O problema é que essa camada base do mundo está irremediavelmente quebrada. No final da segunda seção, o texto foca nos problemas atuais da Bateria Dinheiro e também em explicar em teoria quais são as características de um dinheiro ideal.

Agora nesta terceira seção é onde a gente amarra tudo isso com o Bitcoin e mostra como o Bitcoin funciona, como é o seu uso de energia, e porque ele está consertando o dinheiro. Também são discutidas as implicações da Bateria Bitcoin para as comunidades carentes, para as energias verdes e também quais as implicações para a humanidade. Ou seja, nesta parte será explicado como o Bitcoin funciona e porque ele é um ativo excelente do ponto de vista do ESG, que é um tipo de avaliação qualitativa que leva em conta como determinado ativo ou empresa lida com questões relacionadas ao meio ambiente, à sociedade e à governança (environment, social, governance formam o acrônimo ESG).

Para encerrar, ainda existirá uma quarta seção onde o autor faz algumas considerações sobre o argumento anti-progresso que paira em muitas discussões sobre o futuro e a questão moral do uso da energia. Também é apresentado um argumento pelo uso de mais energia e a visão de futuro pautado nas energias solar e nuclear que a Bateria Bitcoin viabilizará.

Esta terceira seção contém um grande exercício de futurologia, então, se existe uma certeza nela, é que ela estará equivocada em muitos aspectos. O mundo sempre é muito mais complexo do que a nossa mente consegue conceber, e portanto a nossa capacidade de prever o futuro é limitadíssima por definição. Então, o objetivo do texto é mostrar uma tendência macro e não acertar no específico. Basicamente, estamos olhando padrões e tendências, olhando o zoom out e não o zoom in. Ou, em outras palavras: olhando o formato da copa das árvores ao invés de tentar descrever corretamente cada folha.

3.1. A Bateria Bitcoin

“O que fizemos foi criar um sistema onde posso tirar $100 milhões de energia monetária, posso colocá-los na rede Bitcoin. Ele ficará parado por tanto tempo quanto você puder imaginar e não haverá perda de energia. Essa é a genialidade do Bitcoin.”
Michael Saylor

“Não desperdice energia, torne-a útil.”
Wilhelm Ostwald, Prêmio Nobel de Química (1909)

O objetivo desta seção é explicar brevemente o que é o Bitcoin, como é a sua relação com a energia a partir da mineração de bitcoins e qual é o gasto energético associado. Posteriormente, também é discutido como o Bitcoin conserta a Bateria Dinheiro, ao consertar suas principais falhas: a falta de escassez e a baixa resistência à censura. Também são discutidas as principais características da Bateria Bitcoin.

3.1.1. O Bitcoin

O Bitcoin é um sistema de dinheiro eletrônico ponto-a-ponto (peer-to-peer) que não necessita de um intermediário, permitindo que usuários transacionem diretamente entre si, sem a dependência de bancos, grandes corporações ou mesmo governos. A rede do Bitcoin, conhecida como blockchain (no genérico) ou timechain (no específico da rede do Bitcoin) possui o ativo bitcoin, a sua própria moeda digital (ou token) que é utilizada como reserva de valor e unidade de conta. Ou seja, você faz transações de bitcoins (ou de satoshis, a subdivisão dos bitcoins) utilizando o Bitcoin.

O Bitcoin é a implementação do artigo “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System” (Bitcoin: um sistema de dinheiro eletrônico ponto a ponto), publicado pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto em 2008 na lista de discussão “the cryptography mailing”. A versão inicial do software do Bitcoin foi lançada um pouco depois, em janeiro de 2009. No mesmo mês, a timechain foi criada quando Satoshi minerou o primeiro bloco (bloco gênesis) com a mensagem “Chancellor on brink of second bailout for banks” (Chanceler à beira de segundo resgate aos bancos), uma crítica explícita ao sistema financeiro vigente e a sua atuação na crise de 2008–2009.

Bloco gênesis do Bitcoin com a manchete do resgate dos bancos presente.

A Criação do Bitcoin

Apesar de parecer “novo”, a criação do Bitcoin é fruto de mais de 30 anos de desenvolvimento de um grupo de pessoas que se interessavam por criptografia e privacidade, conhecidos como os cypherpunks. Os cypherpunks são um grupo que tem origem em São Francisco e que se torna global quando o grupo passa a se comunicar através de uma lista de e-mails ao invés de encontros presenciais. Nesta lista de e-mails que “O Manifesto Cypherpunk” foi publicado.

O valor mais importante para os cypherpunks é a privacidade.

“A privacidade é necessária para uma sociedade aberta na era eletrônica. Privacidade não é segredo. Um assunto privado é algo que não desejamos que o mundo inteiro saiba, mas um assunto secreto é algo que ninguém quer que ninguém saiba. Privacidade é o poder de se revelar seletivamente ao mundo.”
Eric Hughes, Manifesto Cypherpunk

Você pode até pensar que “beleza, mas eu não sou um cypherpunk, não estou fazendo nada de errado. Eu não tenho nada a esconder.” Mas este argumento do “eu não tenho nada a esconder” se baseia na premissa falsa de a necessidade de privacidade significa querer esconder algo que está errado. Mas isso não é correto. Por exemplo, você provavelmente tem cortinas nas janelas para que as pessoas não possam ver dentro de sua casa. Não é porque você está conduzindo atividades ilegais ou imorais, mas simplesmente porque não deseja se preocupar que os outros estejam te espionando. Ou seja, é do interesse de todos cuidar da própria privacidade como ferramenta de defesa.

Criações dos cypherpunks que são pilares fundamentais do Bitcoin

Os cypherpunks produziram diversas invenções focadas em tentar resolver a questão da transmissão de valor com privacidade e sem a necessidade de um validador externo de confiança.

  • Em 1997, Adam Back criou o Hashcash, um mecanismo anti-spam que basicamente gerava um custo (de tempo e poder computacional) para enviar um e-mail, tornando os spams economicamente inviáveis
  • Em 2004, Hal Finney criou a prova de trabalho reutilizável (reusable proof of work, RPOW em inglês), baseado no Hashcash. RPOW eram tokens criptográficos que só podiam ser utilizados uma vez. A validação e proteção contra gastos duplos ainda era executada em um servidor central.
  • Em 2005, Nick Szabo publicou a proposta para o “bitgold”, um token digital baseado no RPOW. O bitgold não possuía um limite de tokens, mas imaginava que as unidades seriam valoradas de maneira diferente de acordo com a quantidade de processamento computacional utilizado na sua criação.
  • Em 2008, o pseudônimo Satoshi Nakamoto publicou o artigo do Bitcoin, que cita diretamente tanto o bitgold como o Hashcash.

O Bitcoin pode ser entendido como uma máquina distribuída que automatiza a emissão de unidades monetárias escassas e a liquidação de transações financeiras através da conversão de energia em poder computacional. Para entender como funciona a emissão e validação das transações financeiras, é importante entender como funciona a mineração do Bitcoin e o que é a “prova de trabalho” (ou proof of work). Estes conceitos também são fundamentais para compreender porque o Bitcoin pode ser considerado uma bateria, ou seja, porque o uso de energia é tão relevante para que o Bitcoin seja o que ele é.

3.1.2. A mineração de bitcoin

O primeiro passo para explicar a mineração de bitcoin é entender para que ela serve. O principal objetivo da rede Bitcoin é permitir que transações sejam efetuadas sem a necessidade de uma terceira entidade de confiança (um banco, empresa, governo, etc), o que torna a rede incensurável. E é justamente a estrutura da mineração, baseada em prova de trabalho, que permite que isso seja possível. Basicamente, a mineração de bitcoin serve para validar as transações sem a necessidade desse terceiro de confiança e também para garantir que a emissão de novos bitcoins ocorra de maneira justa. Como? É justamente isso que está seção te explicará.

A mineração do Bitcoin é um processo complexo que possui linguagem técnica. Neste texto, eu vou tentar simplificar o máximo possível, tentando não reduzir demais a ponto de descaracterizar o que é a mineração. Mas como este texto não é técnico, o objetivo desta seção é dar uma visão geral, e não explicar os detalhes de como a mineração do Bitcoin funciona. Vale ressaltar, que quando alguém quer aprender a dirigir, essa pessoa não precisa aprender como funciona um motor a combustão. Da mesma forma, praticamente nenhum usuário de dinheiro fiduciário tem a mínima ideia de como funciona realmente o sistema financeiro atual. Ou seja, não é necessário compreender a parte técnica do Bitcoin para conseguir utilizá-lo com sucesso, da mesma forma que não é necessário entender a equação química da combustão para saber dirigir um carro.

Se a mineração de Bitcoin pudesse ser reduzida a uma fórmula matemática, ela seria energia + poder computacional = Bitcoin. Mas, diferente do que ocorre com o alumínio, onde quanto mais energia colocada na equação, mais commodity é produzida, com o Bitcoin mais energia não significa que mais bitcoins serão emitidos. No caso do Bitcoin, mais energia significa que mais poder computacional está protegendo a rede. A taxa de emissão de bitcoins é constante, ou seja, não é afetada pela quantidade de energia alocada na rede. A variação de poder computacional supostamente poderia acelerar a emissão de bitcoins, caso não existisse o ajuste de dificuldade, que controla a dificuldade da mineração. Quando mais poder computacional é aplicado na rede, a dificuldade aumenta, para manter a emissão de blocos de transação estável a cada 10 minutos aproximadamente. Por outro lado, também é o ajuste de dificuldade que permite que a rede se readapte quando atacada, como foi o caso da “grande migração chinesa de hashrate” de 2021, quando a China baniu a indústria de mineração de bitcoin do país e cerca de 50% da hashrate do Bitcoin sumiu do dia para a noite. Mesmo perdendo 50% da sua capacidade computacional, graças ao mecanismo de ajuste de dificuldade, a rede Bitcoin se ajustou e em pouco tempo já estava funcionando normalmente, emitindo um novo bloco a cada 10 minutos em média.

A emissão de bitcoins é constante e ocorre como remuneração para cada bloco minerado. Essa emissão não pode variar por ser controlada pelo código e é reduzida pela metade a cada quatro anos, evento conhecido como halving. Ou seja, a cada 4 anos a remuneração que o minerador recebe a cada minerado bloco cai pela metade. Inicialmente a remuneração era de 50 bitcoins, que depois caiu para 25, 12.5 e hoje se encontra em 6.25 bitcoins por bloco minerado. Se você quiser entender mais sobre o halving leia este texto.

Os equipamentos de mineração de bitcoin são móveis, e os mineradores os alocam onde energia barata está disponível. Estes equipamentos consomem energia tentando adivinhar a solução de uma equação, o que significa que mais energia utilizada aumenta a chance probabilística de um determinado minerador encontrar a solução correta. O minerador que encontra a solução minera um novo bloco e ganha tanto as taxas de transação como a taxa de subsídio do bloco, que sempre é diminuído pela metade nos halvings e que hoje é de 6.25 bitcoins..

O termo mineração é emprestado do ouro. Isto porque para a produção do ouro é preciso muito trabalho para sua descoberta e extração de dentro da terra. Milhares de dólares são investidos em pesquisa e equipamento para ser possível sua extração. O ouro é escasso e difícil de ser produzido. De maneira análoga, a mineração de bitcoins é uma versão digital da mineração do ouro, onde mais energia empregada resulta em maior probabilidade de sucesso na obtenção da commodity.

Muitos criticam o Bitcoin e o seu processo de mineração, alegando que o consumo energético não se justifica. O objetivo deste texto é justamente demonstrar como isso não é o caso e que essa interpretação parte de uma compreensão errada de diversas características do Bitcoin. O primeiro passo para entender como funciona a mineração do Bitcoin e o porquê do seu uso de energia não ser deletério para a sociedade, é entender o conceito de proof of work (prova de trabalho), peça central da mineração de Bitcoin.

Proof of Work

Sistemas descentralizados não possuem um único ponto de confiança. A grande inovação do Satoshi foi conseguir construir um sistema que permite a todos os seus participantes verificarem a mesma verdade de maneira independente. E o que permite isso é justamente o protocolo de proof of work (prova de trabalho). O objetivo da prova de trabalho é criar um registro irrefutável. Se dois registros competirem entre si, no caso de uma tentativa de gasto duplo, por exemplo, é o registro com mais trabalho embutido nele que é o verdadeiro, por definição, o que é conhecido como Consenso de Nakamoto.

O protocolo de proof of work tem duas prinicipais funções: ele permite validar as transações sem uma entidade externa atuando no processo, o que é conhecido como “sem um terceiro de confiança” e ele também permite que novas moedas sejam emitidas de maneira justa, sem favorecimento aos “amigos do rei”

Validação de transações — essa definição de “mais trabalho = verdade” funciona justamente porque trabalho requer energia. O trabalho executado é algo que você não consegue mentir, discutir ou fingir. A prova de que você fez o seu trabalho é auto-evidente no resultado do seu trabalho. Trazendo para o cotidiano, podemos dizer que qualquer mérito físico é prova de trabalho. Por exemplo: é auto-evidente que tanto o escalador que consegue realizar subidas sem corda como a bailarina dançando o Lago dos Cisnes realizaram muito trabalho para chegar neste nível técnico. Este trabalho também é auto-evidente nos resultados físicos deste trabalho, como nas mãos dos escaladores e nos pés das bailarinas. A matéria da faculdade que você estudou sozinho, fez a prova sem colar e passou, também é prova de trabalho, assim como um quarto limpo e organizado.

O alto desempenho físico, bem como seus efeitos no corpo, são provas de trabalho irrefutáveis.

No Bitcoin, trabalho significa poder computacional (hashrate) das máquinas usadas na mineração. E não é qualquer tipo de computação que o Bitcoin usa, mas sim um tipo de computação muito específico que impede qualquer forma de atalho ou nova descoberta que melhore a eficiência dos processos: a adivinhação. Isso acontece porque em um processo de adivinhação, os resultados são probabilísticos. Isso significa que o minerador que quiser ter uma probabilidade maior de adivinhar a solução do bloco precisa executar mais trabalho. Ou seja, utilizar mais energia.

A prova de trabalho é a ponte entre o universo da informação digital e o mundo físico. A computação precisa de energia e existe a relação direta de + energia = + hashrate = + chance probabilística de minerar o bloco e ganhar a recompensa do bloco. A mineração de bitcoins via prova de trabalho foi a forma idealizada por Satoshi Nakamoto para garantir a segurança da rede. Na prática, a mineração de bitcoin é uma competição para resolver problemas matemáticos em que o ganhador pode escrever no livro contábil do Bitcoin. As transações são registradas publicamente nos blocos, que são encadeados entre si formando a sequência de blocos conhecida como timechain (o blockchain do Bitcoin em específico é conhecida como timechain). E como registrar essas transações nos blocos demanda altas quantidades de eletricidade, tentativas de golpe são desincentivadas porque demandariam muito capital e acesso às máquinas de mineração.

Distribuição de moedas — uma das principais questões relacionadas aos criptoativos de maneira geral é como ocorreu a distribuição dos tokens inicialmente. Você poderia reivindicar a maioria dos tokens para si mesmo ou então enviar eles para amigos e parentes, mas isso só recriaria o sistema atual em que algumas elites são privilegiadas em detrimento do resto da população, comprometendo a credibilidade do sistema. No mundo dos criptoativos, existem diversas moedas que possuem tokens pré-minerados, ou seja, tokens que foram distribuídos pelos seus criados para si mesmo ou para seus amigos. Um exemplo disso é o Ethereum, onde cerca de 70% dos tokens foram pré-minerados e distribuídos para os amigos do rei, ou seja, o Vitalik distribuiu esses tokens entre seus amigos e colaboradores da Ethereum Fundation. A imagem abaixo mostra justamente essa política monetária do Ethereum, com o objetivo de ressaltar como a distribuição de tokens NÃO deve ser feita, se o objetivo for ter credibilidade e não ser comparado a uma pirâmide.

Taxa de emissão e oferta do Ethereum.

Mas então, como distribuir esses tokens de uma maneira justa? Sem que uma elite de amigos do rei seja criada como consequência da criação dessa nova moeda? A solução utilizada por Satoshi para o Bitcoin foi distribuir as moedas criando um jogo de adivinhação aleatório entre os mineradores, onde estes são obrigados a entregar algo valioso (a energia) em troca do direito de reivindicá-las. Ou seja, quanto mais energia os mineradores utilizarem, maior a chance deles adivinharem a resposta nesse jogo de adivinhação aleatório, ou seja, maior a chance deles receberem bitcoins pela energia aplicada.

Satoshi não tinha outra maneira de conseguir emitir unidades de valor digital para o mundo físico de maneira justa e descentralizada. Por se tratar de um sorteio, todos têm iguais chances de competir pela recompensa dos blocos, o que evita que os “amigos do rei” tenham vantagens em relação aos demais participantes da rede. A prova de trabalho garante que as chances de um minerador são proporcionais a quantidade de eletricidade que ele utilizou, mantendo justa a distribuição das novas moedas emitidas. Além disso, o minerador, quando valida uma transação, recebe as taxas pagas pelos usuários.

3.1.3. Bitcoin e o uso de energia

Apesar do consumo energético da rede ser indispensável para a segurança e justiça na emissão de novos bitcoins, ele é constantemente atacado por críticos e ambientalistas. De acordo com eles, o Bitcoin consumiria mais energia em 2020 do que era produzido em 2017 e com isso será responsável pelo fracasso na tentativa de combate às mudanças climáticas, uma vez que só o Bitcoin já consome mais energia do que países pequenos, como a Argentina.

Matéria publicada pelo Fórum Econômico Mundial no final de 2017, prevendo que em 2020 o Bitcoin consumiria mais energia que todo o mundo consumia em 2017, como você pode verificar aqui e aqui.
Artigos de 2018 publicados na principal revista de ciências naturais do mundo, a Nature, que se baseiam em premissas falsas e chegam a conclusões equivocadas, como o alerta de que só as emissões do Bitcoin já elevariam o aquecimento global acima dos 2ºC.

Visto a baixa qualidade das críticas, demonstrada acima, antes de se discutir propriamente o uso de energia da rede Bitcoin, é necessário estabelecer algumas premissas básicas que costumam ser mal compreendidas nas discussões sobre o uso de energia do Bitcoin:

  1. A mineração do Bitcoin é móvel e sempre arbitra o preço mundial da energia, buscando sempre as opções mais baratas. Isso significa que a energia utilizada na mineração de bitcoin provavelmente seria desperdiçada caso não fosse utilizada dessa maneira.
  2. Não faz sentido extrapolar o número de transações realizadas diretamente para tentar estimar o gasto energético futuro da rede. Isso ignora todos os desenvolvimentos das camadas secundárias que estão sendo construídas em cima do Bitcoin, como a Linghthing Network e a Liquid.
  3. Não faz sentido citar o gasto energético do Bitcoin sem comparar ele com seus concorrentes, como o mercado de produção do ouro ou o sistema financeiro mundial atual.
  4. Não faz sentido extrapolar, a partir da energia consumida, quais foram as emissões de CO₂ sem considerar a matriz energética do país ou região.
  5. Nós deveríamos ser simétricos nos nossos julgamentos. Se faz sentido ter um julgamento moral sobre como terceiros utilizam energia para o Bitcoin, por que nós não fazemos para qualquer outro item da sociedade moderna, como as luzes de natal ou as máquinas de secar?

Premissas falhas como essas são utilizadas em artigos (Mora et al., 2018 e Krause & Tolaymat, 2018) publicados na principal revista de ciências naturais do mundo, a Nature.

Então vamos explicar porque estas premissas são falsas:

3.1.3.1 — Mineração móvel e o mapa topográfico energético

Um efeito direto do fato da mineração de bitcoin ser móvel é que ela pode ser usada para subsidiar o início de qualquer projeto de eletricidade, na fase anterior a chegada das linhas de transmissão. Mesmo em regiões que não estarão conectadas à rede elétrica e que a energia desperdiçada não seria conectada à matriz, a mineração de bitcoin permite que esta energia seja convertida em bitcoin, uma forma de Bateria Dinheiro aceita mundialmente.

Um modelo muito bom para visualizar este conceito é o do mapa topográfico energético, um mapa em que o preço da energia determinando os picos e vales, e não a altitude do terreno, proposto pelo Nic Carter. Para ele, adicionar Bitcoin à matriz energética mundial equivale a colocar um copo de água sobre este mapa topográfico energético — a água vai preencher os vales e suavizar a topografia como um todo. A altitude mínima deste novo mapa topográfico será mais alta, o que significa que os produtores de energia podem vender essa energia produzida por um preço basal superior em regiões em que antes essa energia seria desperdiçada, visto que ela valia zero.

Faz sentido para os mineradores buscarem os locais com energia muito barata, fazendo todo o mercado energético ganhar um “piso”, um preço mínimo para a energia ser comercializada. Essa é a razão para que muitos produtores de petróleo (um negócio que resulta na emissão de muito metano na atmosfera) tenha desenvolvido um entusiasmo na mineração de Bitcoin recentemente.

3.1.3.2 — O gasto energético futuro não pode ser extrapolado a partir do número de transações

Um dos principais equívocos que os críticos do Bitcoin cometem é acreditar que é possível extrapolar o gasto energético futuro da rede a partir do número de transações atuais e gasto energético atual. Basicamente, eles acreditam que uma simples regra de três fornece um resultado consistente e que não haverá ganho de eficiência com o tempo.

Esse argumento é baseado lógica linear de que atualmente o Bitcoin consome muita energia (algo entre 80 e 120 TWh, dependendo da fonte consultada) e atualmente o Bitcoin liquida cerca de 300.000 transações por dia. Então, se você dividir 1 por 2, você chega a um “custo de energia por transação” aproximado de 8 GW/transação, que pode ser extrapolado linearmente para ver quanta energia o Bitcoin utilizaria para liquidar todas as transações do mundo.

Porém, toda esta linha de raciocínio se baseia na premissa de que uma transação registrada em um bloco no Bitcoin equivale a um único pagamento. E essa premissa é totalmente falsa.

Atualmente, o dinheiro fiat funciona em camadas. Todas as transações que nós fazemos com nossos cartões de crédito no cotidiano são armazenadas pelas empresas (seja Visa, Mastercard ou American Express) e são liquidadas através da Fedwire. A Fedwire nada mais é que a camada base do sistema fiduciário atual e permite que o dinheiro seja transferido eletronicamente entre as instituições financeiras do sistema fiat. Ou seja, as transações simples, como a compra de um cafézinho, não são liquidadas instantaneamente quando você usa o seu cartão de crédito. Essa liquidação das transações ocorre quando a Visa ou a Mastercard transferem esse dinheiro pela rede Fedwire para outros os bancos e outras instituições financeiras.

De maneira análoga, as transações efetuadas na rede Bitcoin podem ser vistas como as transações de liquidação final da Fedwire. O que significa que elas de fato não são, e nem nunca serão, eficientes de qualquer ponto de vista que não seja focado na segurança do sistema. Mas, assim como acontece com as transações normais feitas em cartão de crédito, a rede do Bitcoin também possui suas camadas secundárias, como a Lightning Network e a Liquid Network. Isso significa que, da mesma forma que uma única transação entre a Visa e um banco está consolidando milhares de pequenas transações, a rede Bitcoin também pode (e deve) ser utilizada somente para consolidação final de transações. Ou seja, uma única transação que a Lightning Network consolide na timechain também pode conter milhares de transações de cafézinhos. Isso não é apenas especulação, mas já está acontecendo em El Salvador, onde o Bitcoin é adotado como moeda e utilizado no dia a dia através de Lightning Network.

Mais recentemente, o Twitter integrou a Lightning Network na sua plataforma, o que significa que eles caminham para se tornar a maior empresa de remessas internacionais do mundo. O mais interessante é que como as remessas são feitas via Lightning, as taxas são irrisórias. E, diferente do que ocorre com as empresas de remessas tradicionais, o Twitter permite fazer remessas pequenas, com valores menores que 1 dólar.

Assim como as cerca de 800.000 transações diárias do Fedwire revelam pouco sobre o volume total de pagamentos suportado pela rede do sistema fiduciário atual, as 300.000 transações diárias do Bitcoin também não significam que a rede do Bitcoin só consegue liquidar 300.000 pagamentos em um dia. Em poucas palavras: uma transação não equivale a um pagamento.

Ou seja, o Bitcoin também possui camadas secundárias que já estão em pleno funcionamento, fato que os críticos parecem (propositalmente?) esquecer. Hoje, o Bitcoin já é considerado moeda em El Salvador, o que só foi possível graças a Lightning Network, que viabiliza micropagamentos com taxas inferiores ao sistema fiduciário atual. Ou seja, diferentemente do que vários críticos dizem, hoje já é sim possível comprar um cafézinho ou uma coca-cola com Bitcoin de uma maneira simples e prática, como demonstrado neste video.

Restaurante em El Zonte, El Salvador, que utiliza a Lightning para receber pagamentos.
Vendedor de bebidas na praia de El Zonte, El Salvador, que também aceita Bitcoin como pagamento via a Lightning Network.

3.1.3.3 — O gasto dos outras baterias monetárias

Geralmente, o uso de energia para mineração de bitcoin não afeta o preço da eletricidade na região em nada, pois esta energia não estaria sendo utilizada de outra maneira. Isso acontece devido à Lei de Kepler citada anteriormente, que faz com que a energia não seja fungível globalmente. A eletricidade decai assim que ela deixa o seu ponto de origem, além de ser cara a implementação das linhas de transmissão para o seu transporte. Isso implica na necessidade de produção de energia praticamente em todos os lugares, especialmente perto de centros urbanos, pois a energia não é transportável. Outra implicação da energia não ser fungível é que atualmente existe muita energia que poderia ser capturada sendo desperdiçada em locais distantes de mercados consumidores. De fato, existe praticamente energia infinita sendo desperdiçada atualmente, o que inclui tanto usinas conectadas a rede elétrica que não podem produzir eletricidade com toda a sua capacidade como também uma enormidade de energia solar, eólica, maremotriz, hidroelétrica e geotermal que não são produzidas atualmente por falta de mercado consumidor próximo.

Como na mineração de bitcoin o custo primário é a energia, o incentivo dos mineradores é encontrar a energia mais barata possível. E eles vasculham todo o planeta buscando a energia mais barata em jurisdições amigáveis ou pelo menos neutras. O resultado prático disso é que os mineradores normalmente usam energia que de outra forma seria desperdiçada. Na visão do setor de energia, a mineração de bitcoin fornece uma demanda constante, o tal piso no custo energético representado pelo mapa topográfico do preço da energia. O que significa que agora essa energia desperdiçada consegue gerar receita e ser aproveitada ao invés de ser descartada ao não ser utilizada. Ou seja, a rede Bitcoin busca principalmente fontes de energia baratas e que seriam desperdiçadas, nuance que geralmente é ignorada nos argumentos anti-Bitcoin. Os críticos geralmente pegam os dados individuais e os tiram do contexto, como por exemplo quando a BBC afirma que “o Bitcoin usa mais energia que a Argentina” querendo dizer que isso é muita energia.

Comparação do consumo de energia do Bitcoin com a consumo de outros países apresentada na matéria da BBC, quando a rede Bitcoin consumia cerca de 121TWh

Então, além de explicar que esta energia não está sendo desviada de outra indústria e consequentemente aumentando o preço para as pessoas, é importante também contextualizar o que “usar mais energia que a Argentina” realmente significa. Para isso, o uso total de energia de outras baterias monetárias e da construção civil e as suas emissões totais são apresentados e comparados com o uso total de energia do Bitcoin. A tabela a seguir é uma síntese dos dados do consumo de energia do Bitcoin e outras indústrias como o ouro, o sistema financeiro mundial, o complexo industrial militar e a construção civil apresentados por Hass McCook nesse texto:

Vale ressaltar que o consumo de energia do Bitcoin varia significativamente, conforme as variações de poder computacional empregado na rede. Na época da matéria da BBC, a rede Bitcoin estava consumindo cerca de 121TWh de energia, os dados do texto do Hass McCook mostram um consumo de 79TWh, já os dados apresentados em um relatório da NYDIG mostram um consumo de 62TWh de energia associado a mineração de bitcoin. No momento em que essa parte do texto está sendo escrita, o consumo de energia da rede é de cerca de 98TWh e o valor no momento em que você está lendo este texto pode ser conferido neste link.

A tabela acima permite visualizar como o Bitcoin utiliza significativamente menos energia do que outras formas de baterias monetárias e também que, até mesmo em termos relativos, o Bitcoin emite significativamente menos CO2 que outras indústrias. A comparação com a construção civil serve para ilustrar como outras indústrias globais também consomem significativamente mais do que países inteiros e que isso não é uma exclusividade do Bitcoin. De fato, provavelmente qualquer indústria global importante para a humanidade consumirá muito mais energia do que a Argentina ou mesmo que o Brasil, que possui uma população aproximadamente 4.7 vezes maior (Argentina possui 45 milhões de habitantes, enquanto o Brasil possui 211 milhões).

De fato, quando os dados de consumo de energia da mineração do Bitcoin é comparado com o consumo de energia de outras inovações, fica ainda mais claro o quão absurdo é a seletividade que parte dos críticos tem para citar o Bitcoin no vácuo e não comparando ele com qualquer outra indústria em geral. A imagem abaixo, extraída do relatório da NYDIG, compara o consumo energético de diferentes indústrias (os dados dessas duas imagens são dados do relatório da NYDIG que você pode ver na totalidade aqui). Somente as máquinas de secar roupa já utilizam quase 2x mais energia que isso, enquanto que os data centers utilizam um pouco mais de 3x a energia que a rede Bitcoin utiliza, e a refrigeração doméstica utiliza mais de 10x mais energia. A indústria dos ventiladores e ar condicionado utiliza mais de 32x mais energia, e as indústrias do transporte marinho e aéreo utilizam respectivamente 49x e 65x mais energia que a mineração do Bitcoin.

Comparação entre o consumo de energia utilizado na mineração de bitcoin (em roxo a estimativa de consumo energético da NYDIG e em laranja a estimativa de consumo energético da BBC)

Do ponto de vista das emissões de CO₂, o argumento contra a mineração do bitcoin também perde forças quando essas emissões são comparadas com as emissões de outras indústrias de mineração, como a imagem abaixo (também extraída do relatório da NYDIG) mostra. A mineração de zinco emite cerca de 1.4x mais CO2 que a mineração de bitcoin, enquanto que a mineração de cobre emite 2.7x mais. A mineração do ouro gera 3x mais emissões, enquanto que as indústrias que emitem mais, como a do alumínio e da fundição de aço, emitem respectivamente 33x e 128x mais CO2 do que a mineração de bitcoin.

Ou seja, se nós tirarmos o Bitcoin do seu contexto e o analisarmos isoladamente, pode até parecer que a sua rede e processo de mineração utilizam muita energia. Mas uma análise mais completa, comparando esta rede com a quantidade de energia utilizada em outras indústrias e o quanto elas emitem de dióxido de carbono, nos permite constatar que na verdade o Bitcoin utiliza energia de uma maneira eficiente. De fato, se a análise levar em conta somente as diferentes formas de bateria monetária, ou seja, o sistema financeiro mundial atual, o Bitcoin (que nada mais é que um sistema monetário novo que disrupta o sistema atual) e o ouro (o lastro do sistema monetário antigo), fica ainda mais evidente como a rede Bitcoin é mais eficiente que seus concorrentes.

A conclusão é que a comparação de uma indústria mundial com um país não faz o mínimo sentido. Comparações devem ser feitas entre sistemas análogos e o fato é que o Bitcoin é a bateria monetária que utiliza energia de maneira mais eficiente dentre as alternativas disponíveis no mercado.

O destino do Bitcoin é substituir todo o sistema financeiro atual, seus bancos centrais e instituições centralizadas, e quando isso ocorrer a rede Bitcoin não precisará necessariamente consumir mais energia do que consome atualmente. De fato, com a quantidade de energia utilizada hoje já seria possível substituir todo o sistema financeiro mundial de uma maneira segura e eficiente. Ou seja, a mineração do bitcoin e a sua alta demanda por energia permitirão que muito mais energia seja economizada conforme o Bitcoin for disruptando o sistema fiat atual. Então, mesmo com este alto consumo energético, o saldo de utilização de energia do Bitcoin poderia ser negativo, significando que ele terá poupado mais energia para a humanidade do que terá utilizado. Eu particularmente não acredito neste cenário e acho que a rede utilizará cada vez mais energia, o que é bom e desejável, pois mantém a Bateria Bitcoin segura.

3.1.3.4 — Os tipos de energia utilizadas pela rede Bitcoin

Estimar a energia utilizada pela rede do Bitcoin é relativamente simples, basta fazer uma extrapolação simples utilizando o poder computacional da rede em determinado momento. Por outro lado, estimar as emissões de carbono da mineração de bitcoin é extremamente complexo.

Além de olhar a quantidade de energia que determinada indústria utiliza, também é importante entender qual é a matriz energética que essa indústria utiliza. Ou seja, uma indústria que utiliza muita energia em um país com a matriz energética composta totalmente de energia “verde” é menos agressiva para o meio ambiente do que outra indústria que utiliza significativamente menos energia, porém com essa energia sendo gerada por termoelétricas, por exemplo.

Essa consideração já deveria afetar as comparações entre indústrias por si só, mas no caso do Bitcoin ainda existe a informação adicional que os mineradores não são fixos e estão sempre buscando a forma mais barata de energia, que geralmente é solar, hidroelétrica ou eólica. Existem poucos dados oficiais, que tendem a ser imprecisos, visto a natureza descentralizada da mineração de bitcoin, mas as estimativas sempre apontam que a matriz energética utilizada na mineração de bitcoin é significativamente mais “verde” do que a de qualquer outra indústria.

Existem diversos exemplos famosos de mineração “verde” de Bitcoin:

  • Islândia, onde toda a energia utilizada na mineração é geotermal e hidroelétrica;
  • El Salvador, que também só utiliza energia geotermal na mineração;
  • Rússia, que utiliza energia excedente de uma usina hidroelétrica gigante para minerar bitcoin. Estima-se que essa operação na Rússia equivale a 7% da hashrate mundial do Bitcoin.
  • A utilização do gás natural (metano), que é geralmente descartado pela indústria do petróleo, onde a sua queima gera energia para abastecer os computadores que mineram o Bitcoin. No caso do gás metano, pode-se até dizer que as emissões são negativas, uma vez que o gás que seria emitido passa a ser utilizado, o que pode ser visto também como uma energia desperdiçada que passa a ser energia capturada graças a Bateria Bitcoin. Desta forma, teoricamente os produtores de petróleo que utilizarem o gás natural para minerar bitcoin poderiam até mesmo vender créditos de carbono.

O Bitcoin é pura energia monetária armazenada. Pela primeira vez na história, o ser humano conseguiu criar uma rede monetária baseada em software que permite armazenar a sua energia monetária através do tempo e espaço sem perdas. Desta maneira, o Bitcoin é o melhor uso possível para a energia, mesmo quando comparado com a geração de eletricidade. A eletricidade só consegue viajar uma certa distância até que as leis da física tornem o transporte pela rede elétrica ineficiente e caro. Em compensação, os bitcoins são teletransportáveis, uma vez que ele é digital. Em outras palavras, a eletricidade é significativamente menos fungível que o bitcoin.

3.1.4. Consertando a Bateria Dinheiro

Na seção “A Bateria Dinheiro”, o texto abordou as duas formas de baterias monetárias mais utilizadas, o dinheiro fiat e o ouro. Ambos possuem diversas características positivas, mas também possuem gargalos fundamentais, que torna tanto o ouro como o dinheiro fiat formas ineficientes de armazenamento de energia monetária.

No caso do dinheiro fiat, os gargalos estão relacionados a baixa resistência a censura e a falta de escassez, o que pode ser facilmente observado na atuação política dos bancos e na impressão desenfreada de dinheiro fiat. Já o ouro até é escasso, porém ele também possui baixa resistência a censura como gargalo incontornável.

A mesma tabela extraída do “the bullish case for Bitcoin” usada anteriormente para analisar o dinheiro fiat e o ouro também é utilizada no texto para analisar o Bitcoin:

O principal “problema” associado às características do Bitcoin, de acordo com o “the bullish caso for Bitcoin” é a sua relativa falta de histórico.

O autor deste texto discorda da afirmação que suposta “falta de histórico” seja problemática por três motivos diferentes:

  1. O Bitcoin é o resultado de 34 anos de avanços no campo da criptografia, que se somam aos 13 anos de existência do protocolo (2009–2021) e fazem ele possuir um tempo total superior a 47 anos de desenvolvimento teórico. Ele não foi criado a partir do vácuo, e sim a partir de conceitos bem estabelecidos de todo um movimento político/filosófico com um ethos claro e bem definido (os cypherpunks) e de uma escola de pensamento econômico centenária (a escola austríaca de economia)
  2. O dinheiro fiat (mais especificamente o dólar, lastro do sistema financeiro mundial) não tem um histórico significativamente superior, tendo sido “inventado” da sua forma atual após 1971, então o nosso sistema financeiro atual tem 50 anos. Apesar do nome “dólar” da moeda americana ter sido mantido, efetivamente é uma nova moeda que passa a circular em 1971. Nós costumamos imaginar que o sistema financeiro atual sempre foi mais ou menos desse jeito, com o controle estatal. A realidade é que este é um experimento novo, quase tão novo quanto o próprio Bitcoin. Mas, diferentemente do Bitcoin, o dinheiro fiat sem lastro não se sustenta por conceitos bem estabelecidos de movimentos políticos e filosóficos, mas sim pelo obscurantismo de oráculos senis na forma de bancos centrais. Sintetizando, o sistema fiat não está mais conectado à realidade, uma vez que não possui lastro, ou, em uma linguagem mais simples: o dinheiro passou a nascer em árvore.
  3. O chamado efeito Lindy é um conceito totalmente sobrestimado, ou, em outras palavras, ele é muito menos importante do que fazem parecer. Qualquer mudança de paradigma quebra totalmente a lógica por trás dele, fato que é sempre esquecido por quem usa esse tal efeito como argumento contra inovações tecnológicas. Ele não é uma regra de alguma ciência exata ou natural como a gravidade, a 1ª Lei da Termodinâmica ou a evolução por seleção natural, mas sim uma anedota interessante que às vezes faz sentido, outras vezes nem tanto. Em outras palavras, onde estão as charretes? O cavalo possui um efeito Lindy milenar, então, para os adeptos dessa forma de pensar, o seu uso e utilidade deveria se preservar no tempo mais do que o dos automóveis, que no início dos anos 1900s possuíam um histórico fraco.

Ou seja, mesmo o dito principal “problema” relacionado ao Bitcoin ainda é bastante discutível. Agora vamos focar nas melhorias que o Bitcoin traz em relação ao ouro e ao dinheiro fiat, que tornam ele a melhor forma de Bateria Dinheiro já inventada.

Durabilidade — a durabilidade do Bitcoin não é superior ao ouro físico, que sobreviverá mesmo após a extinção da espécie humana. Porém, enquanto continuar existindo alguns poucos humanos com capacidade de comunicação utilizando a rede elétrica, é possível afirmar que o Bitcoin continuará existindo. Então o Bitcoin irá durar enquanto existir a sociedade moderna.

Portabilidade — como um bem monetário digital, o Bitcoin pode ser teletransportado de um lugar para outro, o que torna a portabilidade do Bitcoin muito melhor que a do ouro e equivalente a do dinheiro fiat.

Divisibilidade — como um bem monetário digital, o Bitcoin é divisível até o limite que a sua programação permitir. No caso, 1 bitcoin (BTC) equivale a 100 milhões de satoshis. Ou seja, ao invés de “centavos”, o bitcoin possui “cem milionésimos”. Enquanto isso, teoricamente o ouro também poderia ser praticamente infinitamente divisível, uma vez que ele é composto por átomos. Mas na realidade, existe um limite físico para a praticidade de se armazenar e se manusear pequenas quantidades de átomos, o que faz com que não seja desejável dividir o ouro em uma escala muito pequena.

Fungibilidade — A fungibilidade do bitcoin não pode ser considerada excelente como a do ouro porque a timechain é um registro incorruptível, ao passo que uma peça de ouro pode ser derretida e transformada em uma nova peça sem deixar rastros. No entanto, já existem ferramentas que permitem obter maior privacidade, e a atualização Taproot trará avanços nesta área.

Verificabilidade — como dito acima, o registro da timechain é incorruptível e os usuários também podem utilizar os seus próprios full nodes (nós validadores). Na prática, isso significa que qualquer um pode verificar qualquer transação já ocorrida na história da rede. Enquanto isso, é impossível se verificar quanto dinheiro fiduciário já foi emitido, e o FED, o guardião do dinheiro fiat, se opõe fortemente a ser auditado, como a famosa foto da Jannet Yellen depondo no congresso americano mostra.

Yellen: “eu sou fortemente contra uma auditoria no FED”

Escassez — o Bitcoin é o ativo mais escasso conhecido pelo homem. Isso porque ele é o único ativo com oferta inelástica. O que isso significa? Usando o ouro como comparação, conforme o preço da commodity ouro aumenta, mais investimento flui para o setor e novos depósitos são encontrados. E mesmo depósito antigos aumentam sua capacidade produtiva, pois com um preço mais alto, novos setores da mina se tornam economicamente viáveis, às vezes até mesmo o rejeito (as sobras) da mina pode ser reprocessado se o preço subir o suficiente para tornar essa atividade economicamente viável, o que já ocorreu diversas vezes com esta commodity. Em outras palavras, no caso de uma commodity como o ouro, preços mais elevados geram aumento de oferta futura, porque a oferta é elástica. No caso do Bitcoin, é impossível aumentar a emissão de novos bitcoins conforme o preço sobe, pois a emissão de novos bitcoins é determinada pelo algoritmo e não pode ser mudada. Hoje, em 2021, é possível afirmar como será a emissão ao longo do próximo século, algo bem diferente do dinheiro fiat que depende das profecias dos oráculos senis que guiam o dinheiro fiat.

Política monetária do Bitcoin. Note que, diferentemente do caso do Ethereum, nenhum bitcoin foi pré-minerado

Resistência à censura — O Bitcoin é uma rede distribuída e descentralizada, sem nenhum ponto de ataque. Usando a analogia utilizada na seção sobre a Bateria Dinheiro, o Bitcoin é o exército de vespas raivosas ou a correição de formigas. O Bitcoin é basicamente informação, e informação leve ainda por cima, o que significa que é extremamente difícil de banir ele.

Uma visão mais aprofundada sobre esse tema pode ser encontrada no texto do Der Gigi sobre as implicações da proibição do Bitcoin. Além disso, o Bitcoin utiliza criptografia avançada, o que significa que nem o melhor hacker do mundo ou mais os maiores governos do mundo conseguem atacar o Bitcoin com sucesso.

Quem melhor que o Obama para fazer propaganda para a segurança do Bitcoin?

Hoje já foram realizadas transações via rádio utilizando a lua como refletora e satélites permitem que transações ocorram mesmo se a internet for desligada. Como a imagem abaixo demonstra, você não desliga uma rede distribuída, você se desliga de uma rede distribuída. A combinação das características de escassez absoluta e resistência à censura, que são dois pontos fracos do dinheiro fiat e do ouro, fazem o Bitcoin uma forma de armazenamento de energia monetária superior. Utilizando a linguagem da metáfora da bateria, a Bateria Bitcoin melhora o ouro ao permitir que ele volte a ser portátil e ainda vai além, tornando essa forma de armazenamento de valor teletransportável. A Bateria Bitcoin também não sofre perdas de carga, pois ela é escassa e não serão produzidos mais de 21 milhões de bitcoins. Isso significa que o reservatório não está “vazando”, que o seu bloco de gelo não está derretendo.

Como uma rede distribuída funciona: você não tem um único ponto de ataque e portanto o máximo que você consegue é se desligar da rede, nunca desligar a rede.

3.1.5. A Bateria Bitcoin

Essa ideia de ver o Bitcoin como uma bateria não é original. Diversos textos que eu fui lendo ao longo desse último ano passam pela tangente nessa visão. O Michael Saylor com certeza influenciou muito essa visão, já escutei ele articulando ela em alguns dos podcasts que ele participou neste último ano, em especial a sua participação em setembro de 2021 no podcast do canal Real Vision, do Raoul Pal. Porém, eu nunca vi esta ideia sendo aprofundada ou sendo utilizada para rebater os FUDs relacionados a energia que a rede consome. O conceito de que o Bitcoin é uma bateria é uma ótima mudança de narrativa que contextualiza, em uma metáfora simples e de fácil compreensão, todas as mudanças sociais, econômicas, políticas e ambientais que o Bitcoin irá realizar.

Tweet do Michael Saylor explicando de maneira sintetizada a tese da Bateria Bitcoin.

Sintetizando, por que o Bitcoin é uma bateria? Se uma bateria é um reservatório portátil de energia, o Bitcoin pode ser visto como uma bateria que permite o armazenamento e a venda dessa energia. De maneira análoga ao alumínio na Islândia, o Bitcoin converte energia elétrica em energia monetária. No caso do alumínio, o metal ainda precisa ser vendido e transportado de navio, enquanto o Bitcoin é energia monetária armazenada e teletransportável.

Todas essas características permitem afirmar que o Bitcoin está consertando a Bateria Dinheiro. Se antes da invenção do Bitcoin, a humanidade estava à mercê dos Estados nacionais e seus banqueiros, agora existe uma forma de dinheiro livre e incensurável. Exatamente como Hayek sonhou, hoje o Bitcoin é o dinheiro que o Estado não consegue parar ou mesmo interferir. A rede monetária Bitcoin permite armazenar energia em forma de energia monetária. Isso faz com que a energia gerada em qualquer lugar do mundo possa transformada em energia monetária e ser teletransportada para qualquer lugar do mundo a partir de uma simples transferência de bitcoins. Como a Meltem Demirors, uma das diretores da CoinShares, escreveu “o Bitcoin torna a energia mutável, portátil, armazenável e transferível ao torná-la dinheiro”.

Os equipamentos de mineração de bitcoin são móveis e os mineradores sempre estão buscando as fontes mais baratas de energia disponíveis. Estes equipamentos de mineração consomem energia tentando adivinhar a solução de uma equação, o que significa que mais energia utilizada aumenta a chance probabilística de um determinado minerador encontrar a solução correta. Em outras palavras, os mineradores são incentivados a utilizar cada vez mais energia. É inegável que a rede Bitcoin utiliza muita energia, mas se isso é um gasto ou é um investimento é uma questão subjetiva. Para quem não vê valor no Bitcoin, qualquer gasto de energia é demasiado alto, enquanto para quem enxerga no Bitcoin um dinheiro incensurável, qualquer quantidade de energia utilizada é justificada, visto que esta energia está sendo utilizada para proteção da rede.

3.1.6. A tecnologia NGU

Diferentemente das outras formas de bateria monetária, a Bateria Bitcoin ainda está no início do seu processo de adoção. Isso significa que, além do grupo de características que impedem a expansão da base monetária, o Bitcoin também apresenta uma faceta extremamente desejável para os usuários desta bateria monetária: a tecnologia NGU. O termo NGU vem do inglês “Number Go Up”, algo como “o número sobe” e é um meme bastante utilizado para descrever uma das principais características do Bitcoin: os ciclos de alta do preço, em escala logarítmica, que ocorrem após os halvings.

Em linguagem memética, seria algo como “o foguete não tem ré!”.

Inicialmente, a tecnologia NGU parece uma brincadeira superficial, mas conforme você passa a entender mais sobre a oferta e a demanda do Bitcoin, você entende que só existe uma opção para o preço do bitcoin no longo prazo: foguete não tem ré!

Eu digo isso baseado no fato de nunca ter existido uma reserva de valor digital, com efeito de rede, tamanho de mercado trilionário, oferta inelástica e um “culto religioso” divulgando e protegendo ela. Oferta inelástica significa que, mesmo com o preço subindo exponencialmente, é impossível aumentar a produção de bitcoins. Não serão minerados mais de 21 milhões de bitcoins e essa mineração seguirá o protocolo, diminuindo a remuneração por bloco minerado a cada halving.

As imagens a seguir são um modelo visual simples que ilustra como o preço, a demanda e a oferta (estoque) variam geralmente. São utilizados os exemplos do ouro (mas na verdade qualquer outro bem que não possui a tecnologia NGU poderia ser utilizado) e do Bitcoin (que possui a tecnologia NGU).

O modelo do ouro mostra dois momentos de demanda distintos, representados pelas curvas D1 e D2. Quando a demanda D1 aumenta, se tornando D2, o preço P1 também aumenta, se tornando P2, pois a quantidade de ouro permaneceu constante. Mas, como o preço P2 é maior que o preço inicial P1, o incentivo para os mineradores de ouro é aumentar a produção deste bem mineral. Isso acontece pois a oferta do ouro (e de qualquer outra coisa que não utilize a tecnologia NGU) é elástica. Como a oferta é elástica, os produtores conseguem aumentar sua produção, o que tende a levar o preço de P2 de volta para P1, mesmo que a demanda se mantenha superior ao momento inicial (D1).

Quando o mesmo modelo é aplicado ao Bitcoin, a tecnologia NGU impede que esta dinâmica ocorra, uma vez que a oferta de bitcoins é inelástica. Isso significa que não serão produzidos mais bitcoins só porque a demanda aumentou. E se a demanda aumentou e a oferta não pode ser alterada, só resta uma alternativa para o preço: number go up!

Além disso, o Bitcoin conta com um “exército de formigas” de bitcoinheiros (conhecido também como exército do DCA) espalhado pelo mundo. Este exército já aderiu ao padrão Bitcoin e que todo mês converte o seu dinheiro fiat em bitcoins, independente do preço. A estratégia de comprar um pouco todo mês (“preço não importa”, para os investidores de bolsa) é bastante utilizada entre os bitcoinheiros que fazem HODL (quem compra Bitcoin para o longo prazo e vê a volatilidade como oportunidade de comprar mais satoshis em promoção). Soma-se a isso a dinâmica imposta pelos halvings e a diminuição gradual de emissão de bitcoins com o passar do tempo. O estoque de bitcoins disponíveis diminui continuamente, fazendo com que o preço suba por uma simples questão de oferta e demanda.

Como a imagem abaixo mostra, o ciclo de vida de um bitcoin tem início quando ele é emitido como recompensa do bloco minerado. Depois ele fica no estoque em circulação, sendo comprados e vendido por traders e mãos de alface, que compram e vendem satoshis de acordo com as variações de curto prazo. Até o momento que um HODLer de longo prazo compra estes satoshis (ou sats, como são conhecidos carinhosamente os satoshis). A partir deste momento, estes sats estão efetivamente fora do estoque em circulação por um futuro possivelmente alto, visto que esses HODLers já entenderam que a Bateria Bitcoin possui a tecnologia NGU como uma das suas vantagens e que guardar sua energia monetária em Bitcoin é a melhor forma de preservação de capital.

Imagem original concebida pelo @IIICapital que pode ser vista aqui

Entendendo os fundamentos centrais da tese do Bitcoin, como a anti-fragilidade da rede baseada em uma descentralização verdadeira e a política de expansão monetária previsível e imutável, a volatilidade do preço no curto prazo deixa de ser algo importante. No longo prazo só existe uma alternativa: Number Go Up. O foco se torna entender se a adoção desta nova tecnologia de bateria monetária esta ocorrendo de uma maneira saudável, visto que adoção significa aumento de demanda. Todas as tecnologias apresentam um processo de adoção que segue o padrão de uma curva em S, como é representado na imagem na figura abaixo. A inclinação da curva representa a taxa de adoção de determinada tecnologia. Compare a velocidade da adoção do telefone (curva azul escuro) com a adoção das mídias sociais e dos smartphones (curvas laranja e marrom), por exemplo. Quanto mais inclinada a curva, mais rápida ocorreu a adoção de determinada tecnologia.

A curva de adoção do Bitcoin ainda está no seu início e até agora a inclinação desta curva de adoção segue a inclinação da adoção da internet (modelo do Deutsche Bank abaixo). A curva de adoção dos smartphones também é utilizada como modelo de piso do preço (modelo do FIdelity) como as duas imagens a seguir mostram.

Modelo do Deutsche Bank que mostra que o número de usuários do Bitcoin de hoje equivale aproximadamente ao número de usuários da internet do final dos anos 1990s
Modelo do Fidelity, que utiliza a curva de adoção dos smartphones como piso para o preço do Bitcoin

De acordo com estes modelos, ainda é bastante cedo na curva de adoção e, seguindo o padrão atual, os próximos anos serão de NGU. Você lembra como era a internet de 1997–1998? Comparado com a internet de hoje em dia ela não era nada. Ou, como a expressão diz “na minha época, era tudo mato”. O mesmo ocorrerá com o Bitcoin, caso essas premissas continuem válidas. Hoje, nós estamos na rede Bitcoin análoga a internet pré anos 2000s, ou seja, na internet pré bug do milênio, banda larga, e-mail sendo uma forma normal de comunicação, ICQ, MSN Messeger, Orkut, smartphones, Whatsapp, Facebook, Instagram, Tik Tok, Tinder, Discord e etc...

Você consegue imaginar a internet sem nenhuma dessas aplicações? É exatamente nesse ponto que nós estamos hoje em dia no Bitcoin. O protocolo base está bem estabelecido e conta com aproximadamente 100–200 milhões de usuários, número que é extremamente impreciso, dado as características da rede. Mas nenhuma das aplicações mais “modernas” foram construídas ainda. Ou seja, a base sólida já existe, agora é questão de tempo até que as novas aplicações irem surgindo com o tempo. A imagem abaixo representa visualmente esta relação entre a camada base robusta e as camadas secundárias, onde as aplicações são e serão construídas.

Como a Internet da Informação está constituída nos dias de hoje, com todas suas aplicações (Facebook, Amazon, Google, Netflix, Apple, Airbnb e etc) construídas como camadas secundárias enquanto que o protocolo é a camada base imutável. Da mesma maneira, na Internet do Valor (o Bitcoin), as aplicações (Lightning Network, Liquid, entre outras) estão começando a ser construídas em camadas secundárias. E mesmo incipiente, essa camada secundária já permite que até mesmo um país utilize o Bitcoin como sua moeda oficial.

Ou seja, mesmo que o Bitcoin já parece bastante consolidado e maduro, a verdade é que ainda estamos no início do seu processo de adoção. Conforme esse processo for avançando, novas aplicações surgirão. Daqui a 5 ou 10 anos, provavelmente a gente olhe para trás e pense “nossa, como tudo era mato em 2021”, mas só o tempo dirá.

Sintetizando: O Bitcoin é o dinheiro do futuro. Ele foi desenvolvido por Satoshi Nakamoto e representa o resultado de anos de pesquisa e desenvolvimento de diversos cypherpunks como Nick Szabo, Hal Finney e Adam Back. A mineração de bitcoin resolve dois problemas básicos: como emitir novas moedas de uma maneira justa e como validar as transações sem a necessidade de uma entidade centralizada fornecendo a confiança para essa transação. Ela funciona a partir de um protocolo de prova de trabalho, a única forma realmente justa de distribuir os tokens e também conseguir garantir a segurança da rede sem a necessidade de algum grau de centralização. A prova de trabalho utiliza muita energia, e quanto mais energia for empregada na mineração, maior a chance probabilística do minerador ser bem-sucedido e minerar um bloco. Isso significa que a rede é incentivada a utilizar cada vez mais energia. Porém, a mineração de bitcoin é móvel e sempre busca os lugares do mundo em que a energia é mais barata. De fato, na Islândia, caso não existisse a mineração de bitcoin, essa energia estaria sendo desperdiçada. O mesmo é verdade para a China, onde a região de Sichuan (que era a 2a maior província de mineração de bitcoin antes do banimento da China no inicio de 2021) produz energia em escala maior do que a rede elétrica consegue absorver. A capacidade hidroelétrica da região de Sichuan é o dobro do que as suas linhas de transmissão podem suportar, levando a redução da produção de energia ou ao seu desperdício. As barragens só conseguem armazenar uma quantidade limitada de energia na forma de água em seus reservatórios antes de serem obrigadas a abrir as comportas. Abrir as comportas significa jogar fora energia potencial gravitacional, que poderia ser convertida em energia elétrica, literalmente é jogar energia fora. Essa energia em excesso era utilizada para a mineração de bitcoin. Mas hoje, após o governo da China proibir a mineração de bitcoin, essa energia produzida em excesso está sendo jogada fora.

Os críticos não prestam atenção nessa questão, e nem no fato de que é impossível extrapolar a emissão da rede Bitcoin sem levar em conta a matriz elétrica dos mineradores. Da mesma forma, também é uma extrapolação errada utilizar o número de transações financeiras do mundo atualmente, comparar esse dado com o número de transações onchain que atualmente ocorrem no Bitcoin e o seu gasto energético atual e fazer uma regra de três simples. Este pensamento simplesmente desconsidera todas as soluções de segundas camadas como a Lightning Network e a Liquid Network.

Esses críticos também costumam dizer que o consumo de energia do Bitcoin é excessivo e que ele coloca em risco o combate às mudanças climáticas, mas esse argumento não se sustenta quando comparado aos fatos. Na realidade, a rede Bitcoin gasta muito menos energia que o ouro ou o sistema financeiro mundial atual, as duas outras principais formas de Bateria Dinheiro existentes.

Então se o argumento for em favor de manter apenas a bateria mais eficiente funcionando, a Bateria Bitcoin é o sistema financeiro mais eficiente do ponto de vista energético do mundo. De fato, o Bitcoin conserta a Bateria Dinheiro ao 1) consertar a falta de resistência à censura, característica em que tanto do dinheiro fiat como do ouro falharam e 2) ao conciliar a solução a falta de escassez do dinheiro fiat e a falta de portabilidade do ouro.

A Bateria Bitcoin também possui a tecnologia NGU, que faz com que o preço do bitcoin siga subindo, seguindo uma curva logarítmica de acordo com o aumento da demanda e conforme a oferta vai sendo retirada do mercado pelos HODLers. Na prática, os HODLers agem como um exército de formigas que vai retirando satoshis de circulação pacientemente.

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Written by Explica Bitcoin

Alguém cansado de ler tanta bobagem a respeito de um tema importante. Este espaço será utilizado para traduções e para textos autorais

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