Ataque Especulativo

Explica Bitcoin
8 min readNov 23, 2021

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Esta é a tradução do texto “Speculative Attack”, do Pierre Rochard (hoje em dia ele fez opsec e não usa mais o twitter com o nome, então quem sabe qual é o avatar dele sabe, o resto pode ficar ai chupando dedo), publicado originalmente no Satoshi Nakamoto Institute no dia 04 de julho de 2014. É interessante notar que esta é a teoria por trás dos movimentos que o Michael Saylor começou a fazer no início de 2021, mostrando a capacidade do Pierre Rochard de enxergar a frente do seu tempo.

Tradução por Leta.

Com a palavra, o autor:

Introdução

Os opositores do Bitcoin torcem para o Bitcoin não pode se tornar popular. Eles se alegram em acreditar que o Bitcoin não conseguirá atravessar o abismo da inovação:

  • É muito complicado
  • Não tem a estrutura certa de governança
  • Cuidar da segurança é muito difícil para o usuário
  • Os sistemas de pagamento fiduciário existentes e futuros são ou serão superiores
  • É muito volátil
  • O governo vai bani-lo
  • Não vai escalar.

A resposta da comunidade Bitcoin é discutir interminavelmente sobre os pontos acima ou encontrar seu lado derrotista interno com chavões como:

  • Bitcoin a moeda não importa, é a tecnologia da cadeia de blocos que importa
  • Seria melhor se a tecnologia da cadeia de blocos fosse usada por bancos e governos
  • Bitcoin deve continuar a ser um sistema de nicho para os curiosos, é apenas um experimento
  • Fiat e Bitcoin viverão lado a lado, felizes para sempre
  • Bitcoin é o Myspace da ‘moeda virtual’

Algumas das críticas mencionadas anteriormente estão corretas, mas são totalmente inconseqüentes. O bitcoin não será adotado avidamente pelo mainstream, ele será imposto a eles. Forçado, como em “compelido pela realidade econômica”. As pessoas serão forçadas a pagar com bitcoins, não por causa da “tecnologia”, mas porque ninguém aceitará seu dinheiro fiat sem valor para pagamentos. Ao contrário da crença popular, o bom dinheiro expulsa o mal. Essa “expulsão” começou como um pequeno sangramento imediato. Ele irá rapidamente se transformar em hemorragia de Classe IV devido aos ataques especulativos as moedas fiduciárias fracas. O resultado final será hiperbitcoinização, ou seja, “seu dinheiro não vale aqui”.

Lei de Thiers: o bom dinheiro expulsa o dinheiro ruim

“Historicamente, foram as moedas boas e fortes que expulsaram as moedas ruins e fracas. Ao longo de vários milênios, moedas fortes dominaram e expulsaram as fraquezas na competição internacional. O dárico persa, o tetradrachma grego, o denário macedônio e o denário romano não se tornaram moedas dominantes no mundo antigo porque eram “ruins” ou “fracas”. Os florins, ducados e sequins das cidades-estados italianas não se tornaram os “dólares da Idade Média” porque eram moedas ruins; elas estavam entre as melhores moedas já feitas. A libra esterlina no século 19 e o dólar no século 20 não se tornaram as moedas dominantes de seu tempo porque eram fracas. Consistência, estabilidade e alta qualidade têm sido os atributos de grandes moedas que venceram a competição para uso como moeda internacional.”

Robert Mundell, “Uses and Abuses of Gresham’s Law in the History of Money”

Bitcoins não são apenas um dinheiro bom, ele é o melhor dinheiro.A rede Bitcoin tem a melhor política monetária e a melhor marca. Devemos, portanto, esperar que o Bitcoin expulssem moedas ruins e fracas. Por qual processo os bitcoins se tornarão os moeda dominante? Quais moedas fiduciárias serão as primeiras a desaparecer? Essas são as questões interessantes da atualidade, pois as premissas necessárias para essas questões já são verdades estabelecidas.

1. O Sangramento Fiat

A tendência atual do Bitcoin é aumentar o valor em uma linha de tendência exponencial à medida que novos usuários chegam em ondas. O bom dinheiro está expulsando “lentamente” o mau. Dois fatores impulsionam isso:

1. Redução da assimetria de informação — as pessoas estão aprendendo sobre Bitcoin e percebendo que bitcoins são de fato o melhor dinheiro. Possíveis motivos sobrepostos:

  • TDAH — fetichismo compulsivo da novidade induzido por nossa cultura de consumo do pós-guerra e/ou processos biológicos inatos
  • FOMO — medo de perder, veja a Teoria do Arrependimento e ingroups (grupos internos), também conhecido como avareza e busca de status
  • TEPT — transtorno de estresse pós-internet, também conhecido como “interrupção”, “próxima grande coisa”, “internet do dinheiro”

2. Aumentando a liquidez — comprar bitcoins é mais conveniente e tem menos taxas cobradas hoje do que há um ano. Pode-se prever razoavelmente que esse também será o caso daqui a um ano. Por que? Porque vender bitcoins é um negócio lucrativo e competitivo. Por que? Porque as pessoas querem bitcoins, pelos motivos citados acima.

Devido à psicologia de grupo, esses recém-chegados chegam em ondas. As ondas têm um efeito desestabilizador sobre a taxa de câmbio: os especuladores não têm certeza da amplitude ou comprimento de onda da adoção, e os apostadores amadores deixam sua empolgação, bem como o medo subsequente, dominá-los. Independentemente disso, uma vez que a maré recuou e as mãos fracas desistiram, o preço é algumas vezes mais alto do que antes da onda. Este sangramento ‘lento’ é o modelo de adoção atual, e os comentaristas geralmente assumem um dos seguintes:

  1. O sangramento lento nunca ocorreu, é uma ficção baseada em dados enganosos
  2. O sangramento lento parou, os motivos acima afetam apenas libertários e adolescentes furiosos
  3. O processo vai diminuir agora, uma vez que todas as pessoas com experiência em tecnologia já estão embarcando

Minha própria previsão é que o sangramento lento está se acelerando e é apenas o primeiro passo. A segunda etapa consistirá em ataques especulativos que usam bitcoins como plataforma. A terceira e última etapa será a hiperbitcoinização.

2. Crise cambial

“Pode fazer sentido apenas conseguir alguns no caso de pegar. Se muitas pessoas pensam da mesma maneira, isso se torna uma profecia que se auto-realiza. Depois de inicializado, há tantos aplicativos se você pudesse pagar alguns centavos a um site com a facilidade de jogar moedas em uma máquina de venda automática.”

Satoshi Nakamoto, 17/01/2009

O sangramento lento leva à crise monetária, à medida que o valor esperado dos bitcoins se solidifica na mente das pessoas. No início são conservadores, investem “o que podem perder”. Após 12–18 meses, seu pequeno estoque de bitcoins aumentou dramaticamente em valor. Eles não veem nenhuma razão para que essa tendência de longo prazo seja revertida: os fundamentos melhoraram e ainda assim a adoção continua baixa. Sua confiança aumenta. Eles compram mais bitcoins. Eles racionalizam: “bem, é apenas [1–5%] dos meus investimentos”. Eles veem o preço cair algumas vezes, devido ao estouro de bolhas ou apenas vendas dos mãos de alface — isso os incita a comprar mais, “uma pechincha”. O Bitcoin cresce e representa mais de seu balanço patrimonial.

No lado do passivo do balanço do Bitcoiner, existem hipotecas, empréstimos estudantis, empréstimos para automóveis, cartões de crédito, etc. Todos alertam as pessoas para não tomarem empréstimos para comprar bitcoins. A realidade é que o dinheiro é fungível: se você comprar bitcoins em vez de pagar o principal da hipoteca, você será um investidor bitcoin alavancado. Quase todo mundo é um investidor bitcoin alavancado, porque faz sentido do ponto de vista econômico (dentro do razoável). O custo do empréstimo (taxas de juros anualizadas variando de 0% a 25%) é menor do que o retorno esperado de possuir bitcoins.

O grau de alavancagem do balanço patrimonial de alguém depende da proporção entre ativos e passivos. O apelo de alavancagem aumenta se as pessoas acreditarem que os passivos denominados em fiduciários vão diminuir em termos reais, ou seja, se elas esperam que a inflação seja maior do que a taxa de juros que pagam. Nesse ponto, torna-se fácil tomar emprestado a moeda local fraca usando qualquer garantia que um banco aceite, investir em uma moeda estrangeira forte e pagar o empréstimo mais tarde com os ganhos realizados. Nesse processo, os bancos criam moeda mais fraca, ampliando o problema.

O efeito de pessoas, empresas ou instituições financeiras tomarem emprestado sua moeda local para comprar bitcoins é que o preço do bitcoin nessa moeda aumentaria em relação a outras moedas. Para ilustrar, digamos que os indianos de classe média se transformem em bitcoiners. Milhares de compradores se transformam em centenas de milhares de compradores. Eles pegam emprestado rúpias indianas usando qualquer garantia não onerada que tenham — casas, negócios, joias de ouro, etc. Eles usam essas rúpias para comprar bitcoins. O preço dos bitcoins em rúpias indianas sobe, um prêmio se desenvolve em relação a outros pares de moedas. Um bitcoin na Índia pode valer $ 600, enquanto nos EUA ele é negociado a $ 500. Os comerciantes comprariam bitcoins nos EUA e os venderiam na Índia para obter um ganho líquido de $ 100. Eles então venderiam suas rúpias indianas por dólares. Isso enfraqueceria a rúpia indiana, causando inflação de importação e perdas para investidores estrangeiros. O banco central indiano teria que aumentar as taxas de juros para quebrar o ciclo, impor controles de capital ou gastar suas reservas de moeda estrangeira tentando sustentar a taxa de câmbio da rupia. Apenas aumentar as taxas de juros seria uma solução sustentável, embora colocasse o país em uma recessão.

Há um grande problema com o aumento das taxas de juros do banco central indiano: o retorno histórico do bitcoin é de aproximadamente 500% ao ano. Mesmo que o retorno futuro esperado dos investidores seja 1/10 disso, o banco central teria que aumentar as taxas de juros a níveis inescrupulosos para interromper o ataque. O resultado é evidente: todos iriam fugir da Rúpia e adotar bitcoins, mais devido à pressão econômica do que ao esclarecimento tecnológico. Este exemplo é meramente ilustrativo, pode acontecer inicialmente em um país pequeno, ou pode acontecer simultaneamente em todo o mundo. Quem alavanca seu balanço e como é impossível prever, e será impossível parar quando a barragem se romper.

Quais países são mais vulneráveis ​​a uma crise monetária? O Business Insider fornece uma lista útil aqui. Os bitcoins terão que atingir certo limite de liquidez, indicado por uma troca sólida em cada centro financeiro e uma oferta de dinheiro real — ou seja, capitalização de mercado — de pelo menos US $ 50 bilhões, antes que possam ser usados ​​como um instrumento em um ataque especulativo. Isso coincidirá com ou causará uma crise monetária.

Enfermaria de doenças contagiosas.

3. Hiperbitcoinização

Um ataque especulativo que parece isolado a uma ou algumas moedas fracas, mas faz com que o poder de compra dos bitcoins aumente dramaticamente, rapidamente se tornará um contágio. Por exemplo, o suíço verá o preço dos bitcoins subir dez vezes e depois cem vezes. Na margem, eles comprarão bitcoins simplesmente porque desejam especular sobre seu valor, não devido a um problema inerente ao franco suíço. A reflexividade aqui implica que a redução na demanda por francos suíços causaria, na verdade, uma inflação maior do que a esperada e, portanto, um problema inerente ao franco suíço. O ciclo de feedback entre a inflação fiat e a deflação do bitcoin lançará o mundo em uma hiperbitcoinização completa, explicada por Daniel aqui (versão em português aqui).

Conclusão

O Bitcoin se tornará popular. Os céticos do Bitcoin não entendem isso devido a seus preconceitos e falta de conhecimento financeiro. Primeiro, eles estão em uma câmara de eco forte em que todos são céticos do Bitcoin. Eles procuram raivosamente por evidências que confirmem sua visão do Bitcoin. Em segundo lugar, eles entendem mal como moedas fortes como o bitcoin superam moedas fracas como o dólar: é por meio de ataques especulativos e crises cambiais causadas por investidores, não por meio da avaliação cuidadosa de jornalistas de tecnologia e ‘consumidores convencionais’. Para homenagear esses céticos que em breve serão extintos, o Instituto Nakamoto lançou Um tributo às afirmações ousadas.

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Alguém cansado de ler tanta bobagem a respeito de um tema importante. Este espaço será utilizado para traduções e para textos autorais

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