O que o anuncio da Strike realmente significa?

Por TeixeraHodl

No dia 07/04/2022 foi anunciado na Bitcoin Conference a parceria da Strike, que tem Jack Mallers como CEO, com uma série de empresas que atuam na infraestrutura de pagamentos do sistema atual. Sistema esse, que muito bem explicado por ele na apresentação, não tem nenhuma inovação significativa desde 1949.

“Desde 1949, não existe uma rede de pagamentos que nos permita inovar. Vamos construir uma rede de pagamentos superior a partir do zero.”

Atualmente, consumidores e comerciantes possuem apenas uma opção para efetuar a troca do dinheiro pela mercadoria. Os bancos e as empresas que processam as transações detêm esse sistema. Algumas inovações aconteceram entre 1949 e os dias atuais, como, por exemplo, pagamentos por aproximação, cartão virtual, e etc. Mas essas não são inovações significativas no sistema, elas melhoram a usabilidade, mas o sistema continua sendo o mesmo desde 1949. Ambas as partes envolvidas na transação ainda seguem sendo obrigadas a usar o sistema antigo para gerar confiança e intermediar a operação.

Esse mecanismo tem um custo, que gira em torno de 3%. O sistema é antiquado e ainda cobra uma porcentagem significativa da operação apenas para exercer esse papel de intermediação entre as partes.

Além disso, é um sistema que depende de uma única moeda. Se o varejista apenas aceita dólar, eu tenho que pagar em dólar. Se o varejista apenas aceita Euro, eu tenho que pagar em Euro. O varejista apenas aceita satoshis, eu tenho que pagar em satoshis. Esse simples fato reforça a ideia do quanto somos escravos das moedas fiduciárias, e o quanto isso impede o livre comércio entre pessoas de todo o mundo.

Mallers em sua apresentação desenha um sonho grande para uma nova rede de pagamento que seja:

• A maior rede;
• Aberta e acessível globalmente;
• Possibilite o envio e recebimento de pagamento;
• Que tenha a finalidade de mover dinheiro;
• Seja instantânea;
• Digitalmente de graça

Realmente parece um sonho, mas apenas se você ficar preso nas soluções que temos atualmente. Ao implementar uma rede baseada nos fundamentos do Bitcoin, associada a Lightning Network esse sonho passa a ser possível.

O Bitcoin tem vantagens significativas contra o sistema atual, isso são fatos e não mais uma discussão filosófica sobre a aplicabilidade do Bitcoin no dia a dia das pessoas.

*slide traduzido

“Se pudermos ajudar a tornar a rede Bitcoin mais acessível e utilizável, acreditamos que podemos mudar o mundo”, disse Mallers.

O que a Strike fez foi criar uma tecnologia onde qualquer transação de valor possa ser feita pela Lightning Network do Bitcoin. Onde uma parte pode usar qualquer tipo de moeda, inclusive o Bitcoin, e a outra receber na moeda que desejar. São duas grandes inovações que essa tecnologia permite. Vou dividir a reflexão a partir delas, talvez assim fique mais fácil de digerir tudo isso.

A primeira é a utilização da Lightning Network como infraestrutura para a transferência de valores entre duas partes. Nós bitcoinheiros conhecemos essa tecnologia, mas até então a enxergamos apenas como uma forma de enviar e receber nossos satoshinhos. O que exige invariavelmente que uma parte tenha satoshis, e a outra aceite receber em satoshis.

Uma das barreiras atuais que enfrentamos quando o assunto é a adoção em massa do Bitcoin é a sua volatilidade. Sim, isso é um fato, e traz um risco grande para ambas as partes. Nenhum comerciante quer receber e no dia seguinte quando for comprar sua mercadoria sua moeda valer 20% a menos. Essa dor é um fato. A comunidade entende que com o passar do tempo a volatilidade do Bitcoin tende a diminuir, mas por enquanto ela é algo que todos têm que lidar.

Com a tecnologia proposta pela Strike, isso deixa de ser um problema. O comerciante pode optar por receber em dólar, independente da moeda usada pelo seu cliente para o pagamento. Boom, a volatilidade não é mais um problema.

Outra barreira é que empresas não querem ter Bitcoin em seu balanço por questões contábeis. Boom, acabou esse problema, visto que elas vão continuar a receber em dólar.

E do outro lado temos nós, bitcoinheiros. Quanto mais dentro da toca estamos, menos moeda fiduciária queremos ter. Mas o que nos prende a ela é exatamente isso. Eu não posso ir à padaria do meu bairro comprar pão com meus satoshis. Eu preciso da moeda aceita nesse estabelecimento para conseguir fazer essa troca. Boom, problema resolvido. Uma vez que essa tecnologia for usada em massa, isso deixa de ser um problema e eu posso comprar pão com meus satoshis e o padeiro vai receber em moeda fiduciária.

Por favor, releia essa parte, a revolução aqui é muito grande.

A segunda inovação é no sistema de processamento. Hoje temos 4 partes envolvidas em qualquer transação. O banco do cliente, o banco do comerciante, a processadora de pagamento e a empresa da maquininha do cartão. Cada uma dessas partes ganha uma porcentagem apenas para validar se o cliente tem o valor em conta, e efetuar a transferência (digital) de uma conta para a outra. Isso é muito old school. E sim, desde 1949 usamos esse mesmo mecanismo.

Isso é antigo, centralizado, abusivo e ineficiente.

Em resumo, essa tecnologia desenvolvida pela Strike permite usar a rede do Bitcoin como substituto do que entendemos como pagamento atualmente. Uma rede aberta, global, incensurável, impossível de ser congelada, sem barreiras, mais barata, mais rápida, mais inovadora e mais inclusiva. Não seriam esses os fundamentos filosóficos do Bitcoin? Satoshi Nakamoto deve estar muito feliz, seja onde estiver.

Alô Visa, Master, Itaú, Bradesco, Santander, Cielo, Safra Pay, Getnet, Sumup, Pagseguro e etc, muito obrigado pelo serviço prestado até o momento, mas não precisamos mais de vocês.

Você entendeu o que acabou de acontecer? Foi criado uma tecnologia que entrega a qualquer indivíduo a liberdade para realizar suas trocas de valor da forma que quiser, com a moeda que quiser, sem intermediários, com um custo baixíssimo e uma eficiência que só o Bitcoin pode oferecer.

Por favor, releia essa parte, a revolução aqui é muito grande.

Legal, mas, na prática, como isso vai acontecer?

A Strike já vem trabalhando nesse projeto há algum tempo, não se faz uma revolução dessa de um dia para o outro. Foram apresentadas as parcerias que eles já fizeram nos Estados Unidos. São elas:

• Shopify. Uma das maiores plataformas de ecommerce passa a oferecer aos seus clientes a opção de pagamento através da rede da Strike. Só aqui já são 1.7 milhões de lojistas que a partir de hoje podem ativar essa função

Apenas 20% dos pagamentos feitos hoje em dia são através de plataforma online, os outros 80% são em redes físicas. E para isso a Strike se juntou as seguintes empresas que atuam nesse ramo:

• Blackhawk — Uma das maiores provedoras de pagamento do mundo. Eles possuem 400.000 pontos comerciais e 37.00 parceiros que utilizam esse serviço;
• NCR — A maior provedora de ponto de venda do mundo. 1 a cada 6 pontos de vendas são deles.

Já está online, qualquer empreendedor nos Estados Unidos pode acessar o site merchants.strike.me e integrar esse sistema no seu comércio.

Boom, agora você pode usar essa tecnologia em locais como McDonald’s, Walmart, Macys, Starbucks, Home Depot, Best Buy… a lista vai longe.

Eu sei, é muita informação. Ainda estou tentando entender os impactos que isso vai ter no nosso futuro. Talvez meus filhos nunca tenham que usar um cartão, ou comprar dólares para ir para os Estados Unidos. Com uma carteira Lightning Network eles poderão rodar o mundo usando apenas seus satoshis.

Aqui está a parte da apresentação em que o Jack Mallers usa essa tecnologia. Se você não entende inglês, ele basicamente está usando 3 carteiras diferentes para pagar por suas cervejas, amendoim e Coca-Cola.

Agora sim. Me gera uma paz ver essa imagem.

O potencial dessa tecnologia é imenso, e acredito que vai levar um tempo para as pessoas entenderem o que isso significa. É mais um tópico para a comunidade bitcoinheira inserir na orange pill. Mas uma coisa é certa, aquela falácia de que o Bitcoin não pode ser usado para pagamento acabou. Só esse tema me leva a outro texto. Vou digerir todas essas informações, e quem sabe volto aqui para contar para vocês.

Mas só um último ponto. Você não quer usar seus preciosos satoshis para comprar uma pizza? Tudo bem, pague em moeda fiduciária. O comerciante tomou a orange pill e quer receber em satoshis? Tudo bem. A maquininha não vai mais travar. Adeus casa de câmbio. Sai para lá cartão pré-pago em dólar com taxas abusivas. Você não precisa fazer uma operação para antecipar seus recebíveis. Adeus taxas de intermediação. Adeus sistema de pagamento de 1949.

Viva a liberdade.

Viva o Bitcoin.

Somos todos Satoshi.