O Ouro de Tolo Digital

Explica Bitcoin
6 min readOct 6, 2021

“There’s a lady who’s sure all that glitters is gold
And she’s buying a stairway to heaven”
Led Zeppelin — Stairway To Heaven

“Ouro do tolo” é um apelido comum para pirita. Ela recebeu esse apelido porque não vale praticamente nada, mas possui uma aparência que engana as pessoas, fazendo-as acreditar que ela é ouro de verdade. Com um pouco de prática, existem muitos testes fáceis que qualquer um pode usar para dizer rapidamente a diferença entre pirita e ouro. O apelido de “ouro de tolo” é usado há muito tempo por compradores e garimpeiros de ouro, que se divertiam com pessoas entusiasmadas que pensavam ter encontrado ouro. Essas pessoas não sabiam diferenciar entre pirita e ouro, e sua ignorância os tornavam tolos. E, pior que isso, essa ignorância também fez com que muitos perdessem suas economias e caíssem na pobreza

Pareceu familiar? Pois bem, se o Bitcoin é o ouro digital, nada mais natural que também exista a versão digital do ouro de tolo, ou seja, as shitcoins.

O Ouro e a Pirita

O ouro é encontrado na natureza principalmente como pepitas em sedimentos nos leitos de alguns rios ou, em menor escala, embutido em pedras. O seu nome vem do latim aurum, que significa brilhante. Ele é um metal amarelo brilhante, denso, maleável e dúctil que não reage com outros produtos químicos ou sofre oxidação (ele não enferruja).

Devido a essas características de brilho e não sofrer alteração química, o ouro sempre foi considerado precioso pelos humanos, sendo utilizado para cunhar moedas pelas principais culturas. Como ele é um metal mole, ele precisa ser endurecido para ser utilizado e geralmente é misturado com a prata e o cobre para formar ligas metálicas mais resistentes. O fato do ouro ser maleável permite que ele seja utilizado para joalheria, visto que é possível moldar ele sem que ele quebre. O ouro é utilizado na joalheria, indústria eletrônica e também como reserva de valor. O ouro é escasso, o que contribui para o seu valor elevado, uma vez que a humanidade valoriza a escassez.

Pepita gigante de ouro encontrada em depósito de rio.

Já o ouro de tolo, como a pirita é conhecida de maneira informal, não apresenta nenhuma das principais características, a não ser a cor amarela com brilho. A pirita não é composta por nenhum metal precioso, mas sim pela mistura de ferro e enxofre formando um sulfeto de ferro. A cor e o brilho da pirita se assemelham aos do ouro e podem enganar os iniciantes e os mais ingênuos. Mas essas semelhanças param por aí. Diferentemente do ouro, a pirita apresenta feições quadradas ou hexagonais e reage com outros elementos químicos ou mesmo ao ser aquecida, geralmente exalando um cheiro característico de dióxido de enxofre (cheiro de ovo podre). A pirita, apesar da coloração similar ao ouro, não pode ser usada para jóias, pois ela não é maleável como o ouro, mas sim quebradiça. A pirita também é um mineral abundante e foi chamada de ouro de tolo pela primeira vez na corrida do ouro da Califórnia, quando garimpeiros menos experientes acreditavam que este material amarelado e brilhante era ouro de verdade.

Agregado de piritas

Na indústria da mineração existem duas categorias de minerais: os minérios, que são o material de interesse econômico, e o mineral de ganga, que é o material sem valor comercial que precisa ser separado do minério. Por definição, o ouro é um minério enquanto que a pirita é um mineral de ganga, sem valor comercial significativo. Desta maneira, é perigoso acreditar que “tudo que reluz é ouro”, como a moça da música Stairway to Heaven.

O Bitcoin e as shitcoins

O Bitcoin ficou popularmente conhecido como ouro digital por conta de uma das suas principais características: a escassez. O Bitcoin é mais escasso que o próprio ouro, uma vez que a sua oferta é inelástica. Além da escassez absoluta, o Bitcoin também possui diversas características que são irreplicáveis por outras criptomoedas, como ser a única blockchain realmente descentralizada (e portanto é a única blockchain resistente à censura), ser a rede com maior poder computacional e possuir concepção imaculada (sem tokens pré-minerados e sem vantagens para os “amigos do rei”), além de possuir um efeito de rede gigantesco.

Já as criptomoedas alternativas, também conhecidas como altcoins ou shitcoins, não possuem nenhuma dessas características. Assim como a pirita, as shitcoins não são escassas e existe uma oferta ilimitada de projetos parecidos e genéricos. As shitcoins também não são descentralizadas. Exemplos claros disso são a atuação do Vitalik Buterin na rede Ethereum e do Charles Hoskinson na rede Cardano. Ou, de maneira mais geral: qualquer moeda que possua uma equipe fundadora conhecida não é descentralizada o bastante, pois estas moedas não são imunes à atuação coercitiva, ou seja: elas podem ser desligadas se alguém ameaçar a família de membros chave dessas equipes, por exemplo.

Descentralização não significa só ter uma rede autônoma, mas também que os usuários comuns devem conseguir validar a rede. No Bitcoin isso é possível e o custo para rodar um node é baixo ( > $200 por ano). Já na rede Ethereum, os nodes podem ser rodados na AWS (da Amazon, uma empresa centralizada). Hoje, o custo de utilizar a AWS é por volta de $175 mensais ($0.243/hora). Na Ethereum 2.0 (atualização do Ethereum que talvez saia do papel algum dia) os usuários precisarão ter pelo menos 32 ETHs para poder rodar um node validador, o que nos preços atuais significa quase $110.000,00 para poder validar a rede Ethereum.

O poder computacional das blockchains também é um fator relevante para garantir a segurança das criptomoedas, e como visto na comparação acima, na prática só existe uma blockchain com poder computacional relevante: o Bitcoin.

A Corrida pelo Ouro Digital

Assim como ocorreu na corrida do ouro da Califórnia, hoje existem milhares de moedas tentando atrair os mais ingênuos. São pessoas que ainda não entenderam as características irreplicáveis do Bitcoin, e buscam ingenuamente encontrar “o novo Bitcoin”, afinal “é mais fácil essa shitcoin passar de 1 para 2 reais do que o bitcoin passar de 250mil para 500mil reais”.

E, da mesma forma que aconteceu com o ouro de tolo físico, essa incompreensão das qualidades que tornam o ouro digital realmente valioso faz e continuará fazendo com que pessoas percam suas economias.

Mas então, como saber se determinada criptomoeda é um ouro de tolo digital?

Se pergunte:

  • Existe algum fundador conhecido?
  • Existe equipe de marketing que tenta vender essa moeda?
  • É possível rodar o seu próprio node por um valor baixo ou só os muito ricos podem validar essa blockchain?
  • Existem moedas que foram pré-mineradas e distribuídas para os “amigos do rei”?
  • Existem pessoas com privilégios na rede, que podem validar transações pelo simples motivo de terem mais de uma determinada criptomoeda (ou, em outras palavras, quem tem mais pode mais)?

Se a resposta para qualquer uma dessas características for sim, cuidado, essa moeda não é ouro digital.

Assim como ocorre no ouro, as características do Bitcoin também são irreplicáveis. Nunca existirá outra criptomoeda com o mesmo efeito de rede, capacidade de processamento computacional, resistência à censura derivada da descentralização verdadeira e concepção imaculada do Bitcoin.

Mas alguns tolos ainda não perceberam isso, o que os torna alvo fácil para os golpistas das shitcoins.

Diferentemente do que a moça de Stairway to Heaven acredita, nem tudo que reluz é ouro.

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Alguém cansado de ler tanta bobagem a respeito de um tema importante. Este espaço será utilizado para traduções e para textos autorais